Impacto do Escândalo do Metanol Afeta Bares e Marcas no Brasil
Donos de bares e restaurantes esperam um movimento reduzido neste final de semana, o primeiro após a revelação da intoxicação por metanol que afetou diversas pessoas, causando cegueira e mortes. Consumidores estão evitando o consumo de álcool, o que pode prejudicar diretamente os negócios de alimentação e bebidas nos dias de maior movimento.
Os primeiros casos surgiram na região metropolitana de São Paulo, mas logo se espalharam para estados como Pernambuco e Bahia. Até 3 de outubro, o Ministério da Saúde registrou 113 notificações relacionadas a intoxicação por metanol em seis estados, incluindo suspeitas, confirmações e mortes, sendo 101 em São Paulo.
A desconfiança dos consumidores se concentra especialmente em bebidas destiladas como whisky, gin e vodka, influenciada pela grande exposição na imprensa e redes sociais. A Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) estima que 28% do mercado de destilados no país seja ilegal, o que representa R$ 28 bilhões em impostos deixados de ser pagos.
De acordo com a Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhorep), 36% das bebidas comercializadas no Brasil são fraudadas, falsificadas ou contrabandeadas. Enio Miranda, diretor da Fhorep, alertou que o medo pode prejudicar os estabelecimentos que trabalham de forma regular, que representam 99,9% do setor.
Dados da Euromonitor indicam que o mercado brasileiro de destilados totalizou cerca de 150 milhões de litros em 2024. Embora não haja informações oficiais sobre a contaminação estar relacionada a marcas específicas, usuários nas redes sociais especulam que bebidas de maior valor agregado possam ter sido adulteradas.
No final de setembro, bares e restaurantes de São Paulo iniciaram um movimento chamado “Fique Tranquilo”, comunicando a procedência segura de suas bebidas. Alguns estabelecimentos divulgaram os nomes dos fornecedores para assegurar a qualidade dos produtos, iniciativa espontânea dos próprios empreendedores segundo a Abrasel-SP.
No dia 1º de outubro, a Abrasel, ABBD e Abrabe, com apoio da multinacional Diageo, realizaram um treinamento online gratuito para orientar empresários a identificar bebidas falsificadas. O evento contou com dois mil participantes e incluiu instruções sobre como reconhecer sinais de falsificação em garrafas, tampas, rótulos e líquidos, além de alertas sobre riscos legais e sociais.
O movimento “Fique Tranquilo” tem impacto nas vendas, como relatou a gerente de um bar em Pinheiros, São Paulo, que observou queda de até 70% no movimento, com poucos pedidos de drinks.
Alguns locais optaram por suspender temporariamente a venda de bebidas destiladas, entre eles o Sindicato dos Clubes do Estado de São Paulo e bares como Julinho Clube, Infini e Moma.
Nesta semana, houve diversas operações de fiscalização e apreensão realizadas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, com 2,5 mil garrafas apreendidas e fechamento de nove estabelecimentos, incluindo duas distribuidoras.
A Abrabe informou que, desde 2024, acompanhou mais de 160 operações contra o mercado ilegal de bebidas, que afeta a cadeia produtiva e a arrecadação fiscal do país.
A Polícia Civil de São Paulo investiga se a contaminação por metanol ocorreu durante a limpeza dos vasilhames ou se foi resultado de ação deliberada de grupos organizados.
Segundo a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o mercado ilegal de alimentos e bebidas gerou perdas de R$ 28,48 milhões em renda para trabalhadores e R$ 147,47 milhões em impostos estaduais em 2024, valores que poderiam custear dezenas de escolas e hospitais.
Em resposta ao aumento dos casos de intoxicação, o governo brasileiro busca garantir o acesso ao fomepizol, antídoto utilizado para tratamentos, que não está disponível no mercado nacional. A Anvisa acionou autoridades internacionais para viabilizar a importação do medicamento e publicou um edital para identificar fabricantes e distribuidores que possam fornecer o produto ao Ministério da Saúde.
Créditos: IstoÉ Dinheiro