Opinião
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Cessar-fogo em Gaza representa passo inicial para paz incerta

As ruas de Israel e Gaza testemunharam um alívio coletivo com o recente cessar-fogo. O mundo pode e deve celebrar esse momento junto a israelenses e palestinos, embora não possa se acomodar. Esta trégua representa um avanço histórico, o primeiro passo para superar o conflito, mas é apenas o começo de um processo ainda incerto.

O acordo, apoiado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, reflete uma convergência rara entre a exaustão das partes e a necessidade de pausa. Israel conseguiu resgatar seus prisioneiros; os palestinos obtiveram um breve intervalo entre as devastações; e o mundo vê renascer a esperança de que o diálogo político prevaleça sobre a força armada. Entretanto, esse momento de alívio deve ser acompanhado de vigilância constante. A trégua não é sinônimo de paz definitiva, mas uma pausa que exige disciplina, perseverança e pressão moral sobre todos os envolvidos, especialmente sobre o Hamas.

Esta primeira etapa do acordo é uma conquista humanitária e simbólica significativa. O verdadeiro desafio será estabelecer a paz sustentável. Três dúvidas principais permanecem: o Hamas concordará com o desarmamento? Israel cumprirá a retirada militar prometida? E quem ficará responsável pela governança e reconstrução de Gaza? Sem respostas claras, o cessar-fogo poderá virar um intervalo que precede uma crise ainda maior.

A base para a paz é essencialmente moral: o Hamas é não apenas um adversário de Israel, mas um obstáculo grave para o próprio povo palestino. Nenhum processo de reconstrução adiantará enquanto Gaza estiver sob o controle de uma milícia que usa a tirania e o sacrifício humano como sua política. Desmantelar o Hamas, tanto militar quanto politicamente, não é desejo exclusivo de Israel, mas uma necessidade civilizatória para libertar a população da opressão.

Israel precisará assumir o compromisso de conter impulsos de retaliação e respeitar os termos do acordo. Ao mesmo tempo, os países árabes devem exercer pressão para que o Hamas desarme e apoie uma reconstrução sob controle internacional, legitimando o processo regionalmente. O Egito precisa intensificar sua participação direta. Embora o Catar e a Turquia tenham sido influentes, seu apoio ao Hamas deve cessar; eles devem converter esta influência para isolar o grupo e abrir caminho para um governo civil em Gaza. A ONU e a Europa necessitam agir efetivamente, investindo em monitoramento e transparência das ações de reconstrução para que a ajuda humanitária não sirva ao extremismo.

Neste esforço global, Washington continuará a desempenhar papel fundamental, sendo o único ator com influência suficiente para equilibrar as pressões sobre Israel e seus interlocutores árabes. A diplomacia de Donald Trump merece reconhecimento pela obtenção de concessões importantes de lados adversários. Contudo, para consolidar esses ganhos, será necessária a virtude que falta ao presidente: constância, método e paciência. A estabilidade da paz requer disciplina diária, não apenas vontade momentânea.

O próximo desafio é a reconstrução física e moral de Gaza, devastada pelo conflito. A região precisará de um governo técnico e legítimo, apoiado por forças internacionais estáveis e mecanismos transparentes de reconstrução, que integrem gradualmente forças moderadas palestinas, abrindo espaço ao poder civil. Se os fundos da região do Golfo e os avanços nas relações árabe-israelenses forem bem utilizados, essa trégua poderá se transformar numa ponte para o futuro.

No presente, o mundo vive um raro momento de silêncio das armas e conexões de esperança. Contudo, a história da região mostra que o cessar das hostilidades não é sinônimo de fim do conflito. Israelenses e palestinos deram um passo para sair do inferno e começaram a atravessar a difícil etapa da reconciliação. Para que não retrocedam, é imprescindível que o Hamas fique definitivamente para trás.

Créditos: Estadão

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