Opinião
21:07

María Corina Machado e o significado do Nobel da Paz em 2025

O prêmio Nobel da Paz há muito tempo já não representa a paz em si, mas sim a lealdade a uma narrativa específica do mundo, a uma ordem de poder e um bloco que encobre sua hegemonia sob gestos apresentados como “humanitários”.

De forma inesperada, María Corina Machado, uma figura política pouco conhecida dentro da Venezuela, foi anunciada vencedora do Nobel da Paz 2025. Sem conquistas reconhecidas em prol da paz nem consenso entre os grupos de oposição venezuelana, a pergunta que surge é: por quê ela? A resposta não está em Caracas, mas em centros de poder como Washington, Londres e Bruxelas.

Nos últimos anos, a Venezuela decidiu retirar seu petróleo da circulação do dólar, estreitar laços com China, Rússia e os Brics e construir uma soberania energética autônoma. Para os países ocidentais, essa escolha é considerada inaceitável. Enquanto isso, os Estados Unidos atacaram três embarcações venezuelanas, causando dezenas de mortes e ameaçando novas ações militares, e o “prêmio da paz” foi concedido a uma oposição alinhada com a agenda americana, uma contradição irônica.

Um dos aspectos mais fortes do soft power ocidental é a coordenação entre seus diversos mecanismos — mídia, fundações, instituições acadêmicas e plataformas digitais — todos trabalhando para criar heróis e figuras globais que enfraqueçam a autodeterminação interna dos países.

No Brasil, quando os governos Lula e Dilma optaram por uma política independente de Washington, ampliando relações internacionais e defendendo a Amazônia como patrimônio nacional, uma rede coordenada de pressões midiáticas, econômicas e judiciais entrou em ação.

A Lava Jato, inicialmente um combate anticorrupção, se transformou em uma arma de lawfare. Paralelamente, a mídia internacional passou a construir imagens negativas dos líderes brasileiros e instituições globais que deveriam atuar com neutralidade permaneceram silentes.

Esse mesmo padrão se observa agora na Venezuela.

Dessa forma, o Nobel da Paz não é um reconhecimento moral, mas um instrumento político que legitima opositores funcionais aos poderes globais.

Sempre que um país decide seguir um caminho próprio, surge uma figura inspiradora coroada símbolo de liberdade, como Aung San Suu Kyi em Mianmar e agora María Corina Machado na Venezuela.

O Nobel da Paz há muito perdeu sua imparcialidade. Por trás da cerimônia tradicional de Oslo, persiste a lógica do domínio: “ou você está conosco, ou está contra nós.” Machado é produto dessa lógica, um rosto moral a serviço de uma causa amplamente questionável.

Créditos: CartaCapital

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