Lula defende investimento contra fome no 80º ano da FAO e relaciona paz e desigualdade
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta segunda-feira (13/10), da cerimônia que marca os 80 anos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), celebrada em Roma.
Em seu discurso, Lula ressaltou a urgência de que a comunidade internacional mude suas prioridades para combater a fome, principal símbolo das desigualdades sociais.
O presidente afirmou que o mundo poderia acabar com a fome humana gastando apenas 12% do que é investido anualmente em armamentos. Ele também destacou que há tecnologia para produzir alimentos em quantidade suficiente para todos, porém o acesso é limitado devido à má distribuição dos recursos financeiros.
Lula sugeriu a criação de uma taxação global de 2% sobre os super-ricos para financiar o combate à fome.
Durante o discurso, ressaltou-se que a FAO foi criada em 1945, antes da ONU, quando representantes de mais de 40 países se comprometeram a eliminar a fome. O brasileiro Josué de Castro, presidente do Conselho Executivo da FAO nos anos 1950, foi citado por alertar que metade da população mundial não se alimenta adequadamente, enquanto a outra metade vive sob medo.
O presidente falou sobre a relação intrínseca entre fome e desigualdades sociais, entre ricos e pobres, homens e mulheres, e entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento.
A produção agrícola mundial atualmente alimenta uma vez e meia a população global. Entretanto, 673 milhões de pessoas ainda sofrem insegurança alimentar, conforme dados da FAO.
Garantir três refeições diárias a essas pessoas custaria aproximadamente 315 bilhões de dólares, equivalente a 12% dos gastos anuais com armas no mundo. Lula apontou que um imposto de 2% sobre os ativos dos super-ricos poderia suprir esta demanda.
O presidente também relacionou a fome à guerra, que, além de causar sofrimento humano, desorganiza sistemas de insumos e alimentos. Políticas protecionistas de países ricos prejudicam a produção agrícola em países em desenvolvimento.
A partir de exemplos da atuação da FAO, do Programa Mundial de Alimentos e do Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura, Lula destacou a importância do multilateralismo para a segurança alimentar global.
O Brasil, segundo ele, tem um papel histórico na organização e no combate à fome, com programas como o Fome Zero, que serviram de inspiração para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, e retomaram avanços para tirar o país do Mapa da Fome em 2014.
O presidente alertou para a necessidade de tornar a luta contra a fome uma política de Estado permanente, além de ampliar financiamento, reduzir custos de empréstimos e aliviar dívidas dos países mais pobres.
Lula também enfatizou paradoxos como a América Latina e Caribe, que são celeiros alimentares, mas convivem com fome, assim como a África, que vive crescimento econômico ao mesmo tempo que tem aumento da insegurança alimentar.
Destacou a cooperação da FAO com o Brasil em mais de 40 países e as iniciativas brasileiras premiadas em boas práticas agrícolas.
Na agenda internacional, Lula mencionou eventos recentes e futuros como diálogos sobre segurança alimentar, a Cúpula Global da Coalizão para Alimentação Escolar e a 39ª Conferência Regional da FAO para América Latina e Caribe, ressaltando a solidariedade e a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, com mais de 200 membros.
O presidente alertou para os impactos do aquecimento global e da crise climática na produção agrícola e na segurança alimentar. Defendeu uma “revolução verde” mais inclusiva para mitigar emissões e adaptar os sistemas alimentares.
Na COP30, que será realizada em Belém, ele anunciou o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que remunerará investimentos e preservação das florestas.
Lula citou a escritora brasileira Carolina de Jesus para lembrar que a fome é a “escravidão do mundo atual” e afirmou que a missão da FAO é cumprir sua promessa constitucional de acabar com esse mal.
Finalizou afirmando que combater a fome, pobreza e desigualdades exige que os pobres deixem de ser invisíveis para as elites políticas, destacando o papel decisivo de governos para proporcionar meios de ação eficazes.
Créditos: agenciagov ebc