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Trump Autoriza Operações Secretas da CIA na Venezuela e Escalada de Tensão

O presidente dos EUA, Donald Trump, confirmou ter autorizado a CIA a realizar “operações secretas” dentro da Venezuela. Este anúncio indica que o conflito bilateral pode entrar em uma fase “terrestre”, embora não esteja claro o que exatamente isso implicaria.

Historicamente, a CIA tem conduzido ações na América Latina envolvendo sabotagens, infiltração e campanhas para desestabilizar governos. Na Venezuela, a Casa Branca vem transmitindo sinais que provocam grande apreensão.

Em entrevista na Casa Branca em 15 de outubro de 2025, Trump afirmou que os EUA estudam operações em solo venezuelano para combater o narcotráfico originado naquele país, que, segundo ele, representa ameaça à segurança nacional americana. Até então, os EUA conduziam apenas operações marítimas contra embarcações próximas à costa venezuelana.

Nos últimos meses, forças americanas afundaram pelo menos cinco barcos suspeitos de tráfico de drogas perto da Venezuela, resultando na morte de 27 pessoas, ações criticadas por especialistas em direitos humanos da ONU como “execuções extrajudiciais”.

A ativista venezuelana de oposição María Corina Machado, que vive na clandestinidade e recentemente recebeu o Prêmio Nobel da Paz, comentou que o conflito parecia estar entrando em uma “fase de resolução”.

O governo americano não detalhou os tipos de ações pretendidas na Venezuela. Em 2025, o Departamento de Estado classificou a organização “Tren de Aragua” como grupo terrorista, acusando seu comando de estar ligado ao presidente Nicolás Maduro, embora documentos da inteligência americana não apresentem evidências que confirmem tal ligação.

Não está claro qual o alcance das operações da CIA autorizadas. Pergunta-se, por exemplo, se poderiam incluir assassinatos de membros de grupos criminosos ou “operações de bandeira falsa” para justificar ação militar contra Caracas.

No passado, a CIA chegou a planejar ações como a operação Northwoods em 1962, que propunha atos terroristas nos EUA para culpar Cuba e justificar uma guerra, mas o plano não foi adiante.

O ex-subsecretário adjunto de Defesa dos EUA para o Oriente Médio no primeiro mandato Trump, Mick Mulroy, declarou que ações secretas requerem autorização presidencial específica com definição clara das operações.

Na Venezuela, sinais da Casa Branca geram alarme. Desde 2019, pesquisas em documentos das Forças Armadas Venezuelanas indicam que o país se prepara para uma possível ação militar, considerando um período de crise com ações hostis, ciberataques e bloqueios, como prelúdio de guerra.

Nessa fase, planeja-se uma resposta envolvendo a Milícia Bolivariana, força composta principalmente por civis organizada para defesa do território.

Segundo estratégias internas, a primeira fase de guerra incluiria intensificação da campanha de desgaste, com possíveis ataques terrestres e aéreos limitados, numa estratégia americana de criar uma “zona cinzenta” entre paz e guerra.

Essa abordagem explica o foco venezuelano na mobilização popular para defesa, treinando civis para o combate e coleta de inteligência local.

Depois da tentativa de golpe de 2002, apoiada pelos EUA contra o ex-presidente Hugo Chávez, a doutrina militar venezuelana evoluiu para uma guerra assimétrica, inspirada em experiências no Vietnã, Cuba, Iraque e Afeganistão. Nessa estratégia, o objetivo não é vencer rapidamente, mas tornar o conflito custoso e insustentável para o inimigo.

A Milícia Bolivariana, criada formalmente em 2008 e em expansão desde então, exemplifica essa doutrina, incorporando civis como parte da defesa nacional, com números oficiais passando de 1,6 milhão em 2018 para 5,5 milhões em 2024, com meta para 8,5 milhões em 2025.

A FANB, com cerca de 150 mil tropas, enfrenta os EUA, com quase 1 milhão de militares, concentrando recursos em armamentos defensivos adquiridos da Rússia, China e Irã. Dificuldades econômicas e sanções limitaram avanços recentes em equipamento militar.

Como próximo passo, preocupa o governo venezuelano a imprevisibilidade trazida pela CIA, que não envolve tropas regulares, aumentando a opacidade das ações americanas.

A reação das forças do governo e da população diante de possíveis agressões, operações de falsa bandeira ou até tentativas de derrubar Maduro é uma incerteza central. A unidade da FANB e a capacidade do regime em conter pressões internas por mudança de governo permanecem questões estratégicas cruciais.

O governo Maduro resistiu ao primeiro mandato de Trump, mesmo com sanções severas e crise econômica. A aparente escalada atual, com a CIA incluída na estratégia, mostra que Washington busca instrumentos mais flexíveis para tentar derrubar o regime venezuelano.

Este texto foi preparado por Pablo Uchoa, especialista em Venezuela e jornalista, com base em informações divulgadas pela BBC e análises de documentos estratégicos das Forças Armadas Venezuelanas.

Créditos: Globo

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