Internacional
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Trump admite operações da CIA na Venezuela em meio a escalada de tensão

A rivalidade entre os Estados Unidos e a Venezuela tem aumentado progressivamente, com o envio de tropas americanas próximas ao país caribenho, a apreensão e destruição de embarcações e a oferta de uma recompensa milionária para capturar Nicolás Maduro.

Esta semana, o presidente dos EUA, Donald Trump, confirmou que autorizou operações da CIA dentro da Venezuela, incluindo ações letais, justificando que o governo de Maduro estaria enviando drogas e criminosos para os Estados Unidos. Mas como essa situação chegou a esse nível? A explicação segue.

No seu primeiro dia no cargo, em 20 de janeiro, Trump assinou um decreto que classificou cartéis e organizações criminosas como terroristas, mencionando explicitamente a facção venezuelana Trem de Arágua. Especialistas entenderam aquela menção como possível base para futuras intervenções americanas no país.

Além do combate ao tráfico, o governo americano também endureceu medidas anti-imigração. Em 28 de janeiro, Kristi Noem, secretária de Segurança Interna, revogou um benefício que permitia a temporária residência e trabalho de cidadãos venezuelanos nos EUA por 18 meses, concedido pelo governo anterior.

No mesmo dia, a DEA divulgou um cartaz que oferecia até 25 milhões de dólares por informações que levassem à prisão de Nicolás Maduro, valor que foi aumentado para 50 milhões em agosto. Os EUA acusam o presidente venezuelano de envolvimento direto com narcoterrorismo e tráfico de cocaína, embora não haja provas concretas apontadas por especialistas.

Em agosto, Trump elevou a tensão ao anunciar a movimentação de navios de guerra equipados e milhares de soldados para a costa do Caribe, próximo à Venezuela. Além disso, 10 mil soldados foram posicionados em Porto Rico e Trinidad e Tobago.

Maduro respondeu levando a questão à ONU, alertando o secretário-geral António Guterres sobre o movimento das tropas. Ele também convocou 4,5 milhões de membros da Milícia Bolivariana, uma força civil treinada militarmente, para apoiar as Forças Armadas.

Em setembro e início de outubro, os EUA realizaram ataques a embarcações suspeitas de tráfico no Mar do Caribe Meridional, enquanto incidentes militares ocorreram, como a aproximação de aviões venezuelanos sobre um navio da Marinha dos EUA em águas internacionais, considerada provocativa por Washington. Autoridades venezuelanas também relataram detenção prolongada de barco de pesca por parte de navios americanos.

No final de setembro, Maduro decretou Estado de Emergência com poderes expandidos para segurança contra agressões externas, embora detalhes tenham ficado em sigilo. Em outubro, foram denunciados voos de cinco caças americanos próximos à costa venezuelana, classificados como provocação.

O professor Raphael Lana Seabra, da Universidade de Brasília, destaca a preocupação com a presença de navios de guerra no Caribe, incluindo um nuclear, e as ações contra embarcações sob suspeita de narcotráfico. Segundo ele, a cada escalada cresce o risco de confrontos mais graves.

A disputa política entre Trump e Maduro é antiga. Em 2019, Trump reconheceu Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela e prometeu usar toda a influência dos EUA para restaurar a democracia no país. Em 2025, o secretário de Estado Marco Rubio reconheceu outro opositor, Edmundo González Urritia, como presidente legítimo, classificando as eleições que mantiveram Maduro no poder como fraudulentas.

A Venezuela segue sob o regime chavista desde 1999, que adotou uma agenda socialista. Isso levou a sanções dos EUA e agravou a crise econômica local.

Apesar das críticas, o comércio petrolífero entre os dois países persiste. A Chevron havia sido autorizada a atuar na Venezuela em 2022, mas a licença foi cancelada por Trump em 2025, gerando rejeição do governo venezuelano e da vice-presidente Delcy Rodriguez, que qualificou a medida como prejudicial a ambos os países.

Delcy Rodriguez ressaltou que as ações americanas impulsionaram a migração venezuelana entre 2017 e 2021 e garantiu que a Venezuela continuará seu processo de recuperação econômica com esforço e respeito à soberania nacional.

O professor Seabra ressalta que os interesses dos EUA na Venezuela são claros, especialmente na exploração do petróleo, que eles não controlam devido à Petrobras da Venezuela, fortalecida sob Hugo Chávez, que interrompeu privatizações e controla o recurso.

Ele acredita que a pressão americana provoca divisões não só na Venezuela, mas na América do Sul e que as ações recentes de Trump podem ter como objetivo criar instabilidade interna para enfraquecer o governo Maduro, além de testar as reações internacionais e regionais.

Este cenário foi detalhado por Jamil Chade, Beatriz Gomes e Agência Brasil.

Créditos: UOL Notícias

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