Lula pretende alertar Trump sobre riscos de ação dos EUA na Venezuela
O presidente Lula planeja advertir Donald Trump sobre os perigos de uma ação precipitada dos Estados Unidos na Venezuela, ressaltando que isso poderia desestabilizar toda a região.
A possível reunião entre Lula e Trump, que pode ocorrer durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) na Malásia, ainda não tem data marcada.
Integrantes do governo brasileiro acompanham atentamente os movimentos da política externa americana em relação à crise venezuelana. Embora considerem improvável uma intervenção militar direta por enquanto, demonstram preocupação com uma possível ação simbólica de grande impacto.
Diplomatas brasileiros questionam como os EUA mantêm cerca de dez mil militares embarcados no mar do Caribe por tanto tempo, já que a ofensiva americana visa derrubar o regime de Nicolás Maduro, inclusive com o envolvimento da CIA. A avaliação é que os Estados Unidos podem optar por demonstrações de força com valor político, mas sem enviar tropas para Caracas.
O governo acompanha com cautela se países da região podem adotar posturas mais permissivas frente a uma eventual ação americana, em troca de benefícios bilaterais. Lula já se posicionou sobre o tema, e o Planalto tenta entender as reais intenções de Washington e se há contatos diretos entre os governos da Venezuela e dos Estados Unidos.
Fontes asseguram que a Venezuela estabeleceu canais de diálogo com os EUA, como evidenciado pela renovação de licenças da Chevron para exploração petrolífera. Também estão em discussão usos do petróleo venezuelano como alternativa diante de uma crise energética potencialmente maior. Por ora, o Brasil mantém postura cautelosa e não faz manifestações formais adicionais, entendendo que a sua posição já foi expressa.
Especialistas alertam que uma ação precipitada contra a Venezuela pode provocar impactos negativos regionais, beneficiando até mesmo grupos de narcotráfico que atualmente enfrentam restrições. O Itamaraty busca compreender os limites dos objetivos americanos na Venezuela e as consequências para a estabilidade local. O plano dos EUA incluiria operações secretas da CIA e aumento da presença militar na região.
Interlocutores ressaltam que a justificativa dos Estados Unidos, de que as medidas visam combater narcotráfico e terrorismo, é considerada frágeis pelo Brasil, pois mais de 90% das drogas que entram nos EUA vêm do Pacífico, e apenas 4% a 5% pelo Caribe.
Segundo Brasília, mesmo intenções éticas podem ser mal aplicadas e gerar efeitos negativos, principalmente em um país vizinho com crise social e econômica prolongada.
Além disso, a sociedade venezuelana tem forte cultura armamentista com semelhanças ao modelo americano, fato que aumenta a preocupação sobre qualquer escalada militar externa. A ampla posse de armas pessoais e a histórica instabilidade tornam qualquer ação precipitada ainda mais arriscada para a região.
Lula e o presidente venezuelano Maduro não se comunicam desde julho de 2024. Maduro foi declarado vencedor da eleição presidencial sem apresentar provas que confirmassem a vitória contra o oposicionista Edmundo González.
Créditos: O Globo