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09:07

Trump autoriza CIA a realizar operações na Venezuela e intensifica tensões

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, autorizou a CIA a conduzir operações letais na Venezuela. A informação foi inicialmente publicada pelo jornal The New York Times e confirmada pelo próprio Trump durante uma coletiva no Salão Oval, em 15 de maio. Ele justificou essa medida citando o combate ao tráfico de drogas e à imigração ilegal oriunda da Venezuela, país que, segundo ele, estaria “esvaziando suas prisões” nos EUA.

Perguntado sobre autorização para o serviço secreto americano eliminar o presidente venezuelano Nicolás Maduro, alvo de uma recompensa desde agosto pelo Departamento de Justiça, Trump desconversou, chamando a pergunta de “ridícula”.

Em resposta, o governo venezuelano, por meio do Ministério do Exterior e do próprio Maduro, repudiou qualquer intervenção e golpes de Estado promovidos pela CIA, ressaltando que a América Latina rejeita tais ações e citando exemplos da Argentina e do Chile.

Além das ações da CIA, os EUA têm atacado embarcações próximas à costa venezuelana, alegando transporte de drogas. Já foram atingidos cinco barcos, com uma ação que teria causado a morte de 27 cidadãos da Venezuela, Colômbia e Trindade e Tobago. Uma das vítimas, Chad Joseph, de 26 anos, foi descrita por sua mãe como um pescador que voltava para casa após três meses na Venezuela.

No Congresso americano, democratas criticam os ataques por violarem legislação nacional e internacional, enquanto alguns republicanos buscam esclarecimentos com a Casa Branca. O governo Trump, contudo, não apresentou provas do transporte de drogas nas embarcações atacadas.

Segundo o historiador Lorenzo Delgado, os Estados Unidos estabeleceram uma rede de informações na América Latina desde a Segunda Guerra Mundial por meio do OSS, precursor da CIA. O país tem um longo histórico de intervenções militares na região, incluindo participação em golpes de Estado.

Arturo López Zapico, professor de História Contemporânea, destaca que a primeira grande intervenção da CIA na América Latina foi na Guatemala em 1954. Após isso, ocorreram ações na República Dominicana (1961), no Brasil contra João Goulart (1964) e na invasão ao Panamá para capturar Manuel Noriega (1990).

Outros casos conhecidos envolvem Bolívia, Argentina, Chile, tentativas fracassadas em Cuba como a Baía dos Porcos, planos contra Fidel Castro e apoio a grupos contrarrevolucionários na Nicarágua.

A CIA não busca provocar caos total, mas medidas para substituir governos contrários aos interesses americanos, mantendo uma rede de aliados locais para apoio.

A Operação Condor exemplifica a colaboração entre ditaduras latino-americanas e os EUA em repressão política e assassinatos, com apoio da agência. Ligação entre os países foi promovida pela Escola das Américas e outras formas de cooperação militar e venda de armamentos.

Carlos Pérez Ricart, pesquisador do Centro de Investigação e Ensino Econômico, ressalta que a CIA é um instrumento da política externa dos EUA, cujo propósito atual parece ser derrubar Maduro, associando-o ao narcotráfico, ainda que a situação seja complexa.

López Zapico destaca que interesses econômicos têm estado por trás das intervenções, como na proteção dos investimentos da United Fruit Company na Guatemala e da General Motors no Chile. Na Venezuela, o petróleo é um fator relevante.

As operações da CIA na América Latina vêm ocorrendo há décadas e continuarão, mas o que mudou é a clareza e o tom direto de sua comunicação, diferentemente de administrações passadas que dissimulavam seu apoio a golpes e intervenções.

O estilo atual de Trump é atribuído à falta de assessores tradicionais, sendo um intervencionismo público e sem rodeios, o que pode prejudicar objetivos gerais dos EUA na região.

A recente declaração pública da CIA na Venezuela, logo após o Prêmio Nobel concedido a María Corina Machado, pode diminuir o impacto positivo dessa premiação dentro da lógica dos interesses americanos na América Latina.

Créditos: CartaCapital

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