Como o roubo da Mona Lisa no Louvre tornou-a a pintura mais famosa do mundo
No último domingo (19), o Museu do Louvre, em Paris, foi cenário de um roubo audacioso que chamou atenção global: joias da coroa francesa, consideradas de “valor inestimável”, foram furtadas em uma ação que durou cerca de 7 minutos.
O crime ocorreu em plena luz do dia, pouco após a abertura do museu para visitantes. Quatro criminosos usaram um elevador mecânico para acessar a Galerie d’Apollon, através de uma varanda próxima ao rio Sena. Para entrar, eles cortaram os vidros da entrada com um cortador alimentado por bateria, ameaçaram os guardas que evacuaram o local e levaram peças expostas em duas vitrines.
Esse ato expôs falhas na segurança do museu e causou uma interrupção temporária no fluxo de visitantes. As autoridades francesas agora buscam prender os ladrões e recuperar as joias antes que sejam desmontadas e retiradas do país.
O episódio remete a outro furto famoso ocorrido no mesmo museu: o roubo da Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, em 1911, um evento que paradoxalmente tornou essa obra-prima a pintura mais conhecida mundialmente.
O roubo da Mona Lisa aconteceu numa segunda-feira, 21 de agosto de 1911, quando o museu estava fechado. Vincenzo Peruggia, o ladrão, entrou no Louvre e saiu com a obra com pouca preparação.
A ausência da pintura só foi percebida no dia seguinte, levando ao fechamento do museu por uma semana em meio a um escândalo com repercussão internacional. Durante a investigação, diversas pistas foram seguidas sem sucesso; o poeta Guillaume Apollinaire chegou a ser preso por uma semana, e o pintor espanhol Pablo Picasso também foi suspeito, embora ambos fossem inocentes.
A Mona Lisa permaneceu desaparecida por mais de dois anos, sendo recuperada em 10 de dezembro de 1913, quando Peruggia foi preso ao tentar entregar a obra a Alfredo Geri, um vendedor de antiguidades em Florença, Itália.
Segundo o historiador americano Noah Charney, autor do livro “Os roubos da Mona Lisa”, esse foi o primeiro crime contra uma obra de arte a receber atenção internacional da imprensa.
Na época do furto, a Mona Lisa ainda não era a pintura mais famosa do mundo. Sua notoriedade cresceu precisamente por causa do roubo, que atraiu intensa cobertura midiática durante o tempo em que esteve sumida. Antes disso, poucos a tinham visto.
“A imagem passou a ser exibida em noticiários cinematográficos, chocolates, postais e anúncios publicitários. De repente, tornou-se tão famosa quanto celebridades do cinema e da música”, escreveu o escritor britânico Darian Leader, autor de “Roubando a Mona Lisa: o que a arte não nos deixa ver”.
Multidões passaram a visitar o Louvre apenas para ver o local vazio onde a pequena pintura do século 16 costumava ficar. O museu já abrigava outras obras importantes, como a Vênus de Milo, a “Liberdade Guiando o Povo” de Eugène Delacroix, e “A balsa de Medusa” de Théodore Géricault, mas após o roubo, a Mona Lisa ganhou uma fama única.
O furto virou assunto de Estado e gerou debates apaixonados na mídia francesa. O jornalista francês Jerome Coignard, autor de “Uma mulher desaparece”, comenta que após a divulgação das circunstâncias do roubo, os jornais começaram a criar histórias, como a de que Leonardo Da Vinci teria se apaixonado pela modelo.
Apesar de toda a fama, o roubo não envolveu um plano complexo. A segurança do museu era precária, com poucos guardas, o que de certa forma inspirou Peruggia. Ele havia trabalhado no Louvre em 1910, instalando pessoalmente a porta de vidro que protegia o quadro. Conservava o uniforme dos funcionários e sabia como a pintura estava presa.
Após ser capturado, Peruggia alegou ter agido por patriotismo, acreditando que Napoleão havia roubado a pintura da Itália e que sua missão era devolvê-la ao país. No entanto, isso não era verdade, pois o quadro foi comprado pelo rei francês Francisco 1º no século 16, por valor significativo.
Ele também alegou ter sofrido racismo por ser imigrante italiano. Entretanto, Charney destaca que Peruggia possuía uma lista de colecionadores de arte americanos, indicando intenção de vender a obra.
Outras hipóteses sobre a motivação do roubo existem, mas o verdadeiro motivo permanece incerto. Não sendo conhecedor de arte, Peruggia escolheu a Mona Lisa também pelo seu tamanho pequeno, medindo 53 por 77 centímetros.
Desde o retorno ao Louvre, em 1913, visitantes de todo o mundo vêm para ver a Mona Lisa. Segundo Coignard, essa pequena e íntima pintura exige calma e tempo para ser plenamente apreciada, razão pela qual poucos realmente a “veem”; o importante é estar presente e dizer que a observa.
Após a captura, Peruggia foi rapidamente esquecido, especialmente em razão da Primeira Guerra Mundial, que começou em 1914. Charney comenta que muitos o veem como alguém extravagante e adorável, que não danificou a obra que aparentemente amava.
Esta reportagem foi originalmente publicada em dezembro de 2013.
Créditos: globo