Trump anuncia aumento de 10% nas tarifas sobre o Canadá por campanha de Ontário
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no sábado (25) um aumento de 10% nas tarifas aplicadas ao Canadá. A medida foi uma reação a uma campanha publicitária da província canadense de Ontário, que usava trechos de um discurso do ex-presidente Ronald Reagan para criticar políticas protecionistas.
O vídeo de 60 segundos, exibido nos EUA desde 16 de outubro, traz fragmentos de um discurso de rádio de Reagan de 1987 em defesa do livre comércio. A peça exibia imagens de fazendas americanas, lojas fechadas e famílias enfrentando dificuldades econômicas, terminando com a mensagem “Ontario, Canada” sobre a ponte Ambassador, que conecta Windsor (Canadá) a Detroit (EUA).
Trump respondeu rapidamente via Truth Social, classificando a propaganda como uma “deturpação grave dos fatos” e um “ato hostil”, e anunciou que as tarifas seriam elevadas em 10% além do que já estava em vigor. Essa decisão suspendeu negociações bilaterais sobre tarifas de aço e alumínio e aumentou as tensões na relação comercial, que movimenta cerca de US$ 900 bilhões por ano.
O primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, anunciou que a campanha publicitária será suspensa nos EUA a partir de segunda-feira (27), após conversa com o primeiro-ministro canadense Mark Carney. Contudo, os anúncios ainda serão exibidos durante os dois primeiros jogos da World Series neste fim de semana.
Conforme reportado pela Bloomberg, o próprio ataque de Trump ampliou o alcance da propaganda, fenômeno conhecido como Efeito Streisand, em que tentativas de suprimir um conteúdo acabam por aumentar sua visibilidade. As visualizações do vídeo nas redes sociais de Ford cresceram de 578 mil para 1,5 milhão em menos de 24 horas.
O economista Derek Holt, do Bank of Nova Scotia, comentou que a reação de Trump fez com que o mundo inteiro ouvisse o que Reagan disse sobre tarifas, quando originalmente a campanha era dirigida apenas ao público americano.
O plano de mídia de Ontário previa um investimento de C$ 75 milhões (US$ 54 milhões), com veiculação em grandes redes como Fox, NBC, CBS, ABC, ESPN, Newsmax e Bloomberg Television. O objetivo era atingir distritos controlados por republicanos e persuadir os “Reagan Republicans”, defensores do livre comércio, a se opor à ala “MAGA”, mais alinhada às políticas protecionistas de Trump.
O comercial não mencionava que Reagan, ao condenar o protecionismo, também impôs tarifas pontuais ao Japão, classificadas como “casos especiais”. A Fundação Ronald Reagan afirmou que o uso dos trechos foi “seletivo”, enquanto Trump chamou o vídeo de “falso”.
Analistas avaliaram que o episódio comprova o ditado publicitário de que “não existe má publicidade”. Brian Wieser, consultor e especialista em mídia, disse que avaliar a eficácia de uma campanha publicitária é uma arte, e esta, certamente, virou o assunto do momento.
Após a controvérsia, Trump afirmou a repórteres que não pretende se reunir com Mark Carney nos próximos encontros internacionais na Ásia, declarando estar satisfeito com o acordo comercial vigente com o Canadá.
Enquanto isso, o governo canadense tenta retomar as negociações sobre a redução das tarifas de aço e alumínio, propondo maior acesso do setor energético canadense ao mercado americano — uma conversa que agora parece distante.
Créditos: infomoney