Eleições legislativas na Argentina desafiam governo de Javier Milei
Neste domingo (26), a Argentina realiza as eleições legislativas de meio de mandato, com atenção nacional e internacional, especialmente dos Estados Unidos, voltada para o desempenho do governo de Javier Milei.
O partido no poder chega às urnas fragilizado pela volatilidade do dólar, que persiste apesar das intervenções do Tesouro dos EUA. A situação econômica argentina suscita risco de desvalorização do peso, podendo levar a uma inflação mensal de dois dígitos, algo que Milei conseguiu controlar nos primeiros anos de governo.
Porém, o desafio de Milei vai além da economia. A derrota nas eleições de setembro na Província de Buenos Aires, a mais populosa do país, abalou sua base, e o governo precisa consolidar apoio no Congresso para avançar em reformas essenciais durante os dois anos restantes do mandato.
Atualmente, o partido Libertad Avanza detém 44 das 257 cadeiras da Câmara dos Deputados e 6 das 72 no Senado. Para evitar vetos, o presidente necessita de pelo menos um terço dos membros em uma das casas, correspondendo a 86 deputados ou 24 senadores.
No primeiro ano, Milei aprovou uma ampla legislação mesmo sem maioria, contando com apoio de deputados e senadores de outros partidos, especialmente do PRO e governadores aliados. No segundo ano, promessas não cumpridas, desgaste no diálogo com governadores e dissidências internas dificultaram essa dinâmica.
Antes das eleições em Buenos Aires, esperava-se que o governo pudesse chegar a 80-90 cadeiras e buscar 129 para reformas profundas. Após a derrota por mais de 13 pontos, consolidar um terço dos legisladores para bloquear leis indesejadas é visto como mais realista.
Mesmo assim, o governo precisará negociar com outras forças para implementar as reformas de seu plano econômico.
O resultado eleitoral influenciará a capacidade de diálogo com aliados e o incentivo de outras forças a apoiar um governo potencialmente enfraquecido.
Em 7 de setembro, nas eleições na província de Buenos Aires, Milei sofreu uma derrota significativa para o peronismo, alterando o apoio que desfrutava no Congresso. Leis importantes sobre deficiência, emergências pediátricas e financiamento universitário foram mantidas, apesar de vetos presidenciais.
O partido governista chegou a essa eleição abalado por escândalos de corrupção envolvendo uma rede de supostas propinas na Agência Nacional de Deficiência (NAD), ligada à irmã e secretária-geral da Presidência, Karina Milei, além da investigação sobre o episódio do golpe da Libra$, ativo digital que teve alta e queda abruptas em poucas horas. O governo nega as acusações.
Durante a campanha, um novo escândalo surgiu quando o principal candidato na província de Buenos Aires, José Luis Espert, foi acusado de supostas ligações com um traficante de drogas e retirou sua candidatura. Apesar disso, seu nome e rosto aparecerão nas cédulas devido a decisões judiciais.
Após a derrota em Buenos Aires, os mercados reagiram negativamente: o dólar oficial subiu quase 50 pesos, ações argentinas despencaram em Wall Street e o índice de risco-país ultrapassou 1.000 pontos.
Quase 20 dias depois, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, anunciou possíveis resgates para a Argentina, incluindo compra direta de pesos no mercado cambial, uma medida rara desde 1996.
O presidente Donald Trump manifesta apoio a Milei e declarou que, em caso de derrota, os EUA não serão generosos com a Argentina.
O partido governista aposta em alcançar resultados considerados vitória, mesmo que moderados, e buscará alianças que garantam governabilidade, alinhadas ao interesse dos EUA em manter um aliado na região no contexto da disputa com a China. A riqueza argentina em recursos naturais estratégicos e infraestrutura é outro fator do interesse americano.
Além da especulação sobre votos e composição do Congresso, a continuidade do governo dependerá das negociações políticas, mudanças ministeriais já em curso e da reação dos mercados.
O ministro da Economia, Luis Caputo, afirmou que as bandas cambiais permanecerão inalteradas após as eleições, apesar das pressões sobre o dólar. A dívida argentina, que aumentou com a intervenção americana, e o risco de reações negativas nos mercados após o pleito ainda são incertos.
O governo tem reformas trabalhista, tributária e previdenciária pendentes, consideradas essenciais para estimular crescimento econômico e investimentos estrangeiros.
O presidente declarou recentemente que essas reformas e ampla desregulamentação econômica estão por vir.
O desdobramento das eleições definirá se Milei conseguirá avançar com seu plano econômico ou se terá que reformular sua estratégia na reta final do mandato.
Créditos: CNN Brasil