Lula afirma que Trump reconhecerá que Bolsonaro ‘era nada’ após reunião na Malásia
O presidente Lula (PT) afirmou que, durante sua conversa de cerca de 50 minutos com Donald Trump na Malásia, mencionou o ex-presidente Jair Bolsonaro. Lula disse a jornalistas que afirmou a Trump que o julgamento de Bolsonaro respeitou o direito à ampla defesa e que o republicano “vai perceber que o Bolsonaro era nada”.
Após o encontro, Lula demonstrou otimismo. Ele espera encontrar Trump na próxima semana em Washington e relatou que o republicano tem interesse em visitar o Brasil. Lula o convidou para participar da COP30, que ocorrerá em Belém no próximo mês.
O presidente acredita que “em poucos dias” será encontrada uma solução para a taxação sobre produtos brasileiros. Ele contestou a justificativa para a taxação de 50% imposta às exportações brasileiras, afirmando que os Estados Unidos não têm déficit com o Brasil, que foi a explicação dada para o tarifamento global. Lula ressaltou que esse argumento será usado nas negociações.
Lula declarou ter refutado a alegação de Trump relativa ao julgamento de Bolsonaro, que foi criticado na carta que anunciou as tarifas em julho. “Disse para ele que o julgamento foi um julgamento muito sério, com provas muito contundentes”, afirmou.
O presidente destacou que os acusados no caso da trama golpista foram julgados com direito à defesa, direito este que, segundo ele, não teve em seu processo, e mencionou que foi descoberto um plano para assassinar a ele, ao vice-presidente Geraldo Alckmin e ao ministro do STF Alexandre de Moraes. Jair Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão.
Lula comentou ainda que Trump sabe que “rei morto, rei posto” e que Bolsonaro faz parte do passado da política brasileira. Ele afirmou: “Com três reuniões que você fizer comigo, você vai perceber que o Bolsonaro era nada, praticamente”.
Trump orientou suas equipes a fechar um acordo comercial com o Brasil sobre a tarifa nas próximas semanas, conforme divulgado por Márcio Rosa, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Rosa afirmou que, seguindo orientação de Lula, reiterou aos norte-americanos que a taxação imposta ao Brasil precisa ser revertida, avaliando que as medidas são baseadas em motivos improcedentes e inadequados. Lula também repetiu esses argumentos durante a reunião bilateral com Trump.
Nas próximas semanas, uma equipe brasileira deve viajar a Washington para dar continuidade às conversas com o governo dos EUA.
Márcio Rosa declarou: “O Brasil solicita que haja reversão da decisão política tomada para a taxação. Os aspectos políticos que poderiam existir não estão mais na mesa, algo que nunca poderia ter estado, como o senhor [Lula] sempre ressaltou. Graças a isso, hoje discutimos um acordo comercial”.
O secretário afirmou que as discussões com os EUA estão avançando de forma espetacular, comparando ao cenário dos últimos dias, graças ao compromisso público assumido pelos norte-americanos.
Lula e Trump se encontraram em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a cúpula da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático). O presidente brasileiro disse aos jornalistas que não deseja qualquer desavença com os EUA e que não há motivo para conflito entre os dois países.
Trump deixou aberta a possibilidade de trabalhar em acordos referentes às tarifas impostas ao Brasil, e disse ter muito respeito pelo presidente Lula e pelo Brasil. “Vamos trabalhar em acordos”, afirmou.
Trump também disse ser uma “grande honra” estar com Lula e afirmou: “Acho que eles estão indo muito bem até onde sei. Podemos fazer bons acordos para ambos os países. Acho que faremos acordos. Conversamos e acho que teremos um bom relacionamento”.
Lula declarou que a pauta a ser discutida com os Estados Unidos será extensa. “Quando dois presidentes se sentam para expor seus pontos de vista, a tendência natural é chegar a um acordo. Estou otimista com a manutenção de uma relação civilizada entre Brasil e Estados Unidos. Tenho uma pauta longa para discutir com os EUA”.
Sobre a reunião, Lula comentou: “Parecia impossível uma reunião entre Brasil e Estados Unidos aqui na Malásia, pois Trump teve que viajar 22 horas dos EUA para cá, e eu 22 horas do Brasil. Mas conseguimos fazer, e estou feliz com isso”, disse na abertura de evento empresarial entre Malásia e Brasil.
A relação entre Brasil e EUA ficou tensa após sanções e tarifas impostas pelos americanos, incluindo sanções contra autoridades brasileiras patrocinadas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e aumento de taxas sobre produtos importados do Brasil.
Inicialmente, o Brasil sofreu uma taxação de 10%, o mínimo imposto por Trump a outros países na nova política tarifária anunciada em abril. O avanço do julgamento da trama golpista no Brasil levou o aumento para 50% em julho. A justificativa foi que ações do governo brasileiro prejudicavam “empresas americanas e os direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos”.
No mesmo mês, o ministro do STF Alexandre de Moraes foi sancionado com a Lei Magnitsky. Ele, juntamente com sete outros ministros e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, tiveram vistos americanos cancelados. A esposa de Moraes, Viviane Barci de Moraes, e o instituto Lex, ligado à família, também foram alvos da lei após a condenação de Bolsonaro.
O governo brasileiro afirmou que não aceitaria interferência, com o ministro Mauro Vieira ressaltando que a soberania do Brasil “não é moeda de troca diante de exigências inaceitáveis”.
Lula chegou a autorizar uma medida de reciprocidade com tarifas pelo Brasil, que foi comunicada aos EUA, mas nunca entrou em vigor.
Créditos: UOL