Milei surpreende e amplia base legislativa para governo na Argentina
Quatro meses antes das eleições legislativas, Javier Milei apostou em uma vitória que reforçaria seu governo, a continuidade da política econômica e pavimentaria sua reeleição em 2027. Apesar dos escândalos que abalaram a popularidade da Casa Rosada, os argentinos deram um resultado inesperado ao presidente.
Com mais de 97% das urnas apuradas, o partido governista A Liberdade Avança conquistou 40,8% dos votos e 64 cadeiras na Câmara dos Deputados, onde 127 das 257 cadeiras foram renovadas. O peronismo, dividido entre Força Pátria e partidos regionais, obteve 31,6% e 44 cadeiras. Outras forças como Províncias Unidas e a Frente de Esquerda somaram mais algumas vagas, além de partidos provinciais e independentes.
No Senado, dos 24 assentos em disputa, A Liberdade Avança garantiu 13, o peronismo, 6, e partidos regionais, 5. O governo ganhou terreno inclusive na província de Buenos Aires, tradicional reduto peronista, vencendo em 15 das 23 unidades federativas.
O partido de Milei reuniu-se em Buenos Aires enquanto os resultados eram divulgados, com clima de celebração. O presidente agradeceu aos apoiadores das ideias da liberdade e afirmou que o país inicia a construção da “Argentina grande”.
Ele destacou ainda a contribuição dos membros do governo e do gabinete para o resultado, interpretando-o como a confirmação do mandato recebido em 2023.
A aliança de Milei com o PRO de Mauricio Macri ampliou sua representação para além das 74 cadeiras anteriores na Câmara e 13 no Senado, superando a meta para ter um terço dos deputados e fortalecendo o governo no Congresso.
No dia da votação, Milei adotou uma postura mais discreta, evitando declarações antes do voto, mas recebeu aplausos e cumprimentou apoiadores. A expressiva vitória pressiona o peronismo, que enfrenta desarticulações após o governo Fernández.
Axel Kicillof, governador da província de Buenos Aires e principal opositor, afirmou que mantém disposição para diálogo com o governo nacional, mas criticou a falta de comunicação e a aproximação deste com os Estados Unidos.
A ex-presidente Cristina Kirchner, cumprindo prisão domiciliar, foi impedida de votar em decisão da Câmara Nacional Eleitoral após ter sua condenação confirmada.
Milei superou as expectativas ao manter e ampliar sua bancada na Câmara e aumentar sua presença no Senado, apostando na desaceleração da inflação e no apoio dos EUA. A cooperação econômica com os EUA incluiu compras de moeda e acordo de troca de divisas para evitar crise cambial pré-eleitoral.
O governo deve passar ainda por ajustes no gabinete, com saídas previstas em ministérios importantes, enquanto aliados no Congresso se mostram abertos para ampliar as maiorias.
A eleição teve a menor participação desde 1983, com 67,9% dos eleitores comparecendo, e utilizou pela primeira vez sistema de cédula única de papel, que prolongou a espera em algumas seções, mas sem registros de incidentes.
Créditos: Folha de S.Paulo