Furacão Melissa deixa brasileiros confinados em resort na Jamaica
A contadora Mariana Almeida Caserta Nocera, de 36 anos, está confinada em um resort na Jamaica com o marido, os pais e dois tios devido à aproximação do furacão Melissa, potencialmente o mais poderoso da história do país. Com aeroportos fechados e previsão de ventos que podem alcançar quase 300 km/h, Mariana descreve o medo de enfrentar a tempestade.
A família chegou à Jamaica antes do alerta de emergência. Mariana desembarcou em Ocho Rios, no norte da ilha, na sexta-feira, 24 de outubro, acompanhada do marido, dos pais e de dois tios. O grupo ficou hospedado no hotel RIU Ocho Rios, onde foram informados na recepção que o país estava em monitoramento devido à aproximação do furacão Melissa, que inicialmente parecia distante por se mover lentamente.
Nos primeiros dias, a situação ainda era normal, com funcionamento das piscinas e bares, mas no fim de semana o clima mudou. Na sexta e no sábado, ainda eram dias típicos de férias, até que o hotel começou a recolher cadeiras e espreguiçadeiras e comunicou que entraria em lockdown.
O hotel impôs confinamento e forneceu kits de emergência aos hóspedes, contendo dois Cup Noodles, um suco, um achocolatado e um pacote de bolacha, que foram indicados como almoço e janta. Embora o plano fosse distribuir os kits nos quartos, os hóspedes, preocupados, formaram fila para recebê-los.
As orientações da administração incluíram barricadas com colchões contra janelas e portas de sacada, além do isolamento em banheiros durante o pico do furacão, que pode ter ventos de até 300 km/h. Mariana relata o medo, apesar dos esforços para manter a calma.
Como viaja com familiares idosos, incluindo parentes com diabetes e que usam medicações controladas como antidepressivos, a família conseguiu contato com um médico local para repor remédios. Também providenciaram um carregador portátil e contrataram internet para a viagem com o objetivo de manter comunicação caso faltem eletricidade e conexão wi-fi.
Há um clima de tensão no resort, com hóspedes formando filas para alimentação e apreensão quanto à possível falta de comida e água. Mariana descreveu momentos de choro e destacou que nunca havia enfrentado situação semelhante.
O voo de retorno ao Brasil, previsto para quarta-feira, 29 de outubro, foi cancelado após o fechamento de todos os aeroportos da ilha. O grupo está localizado no quinto andar, uma área considerada alta e segura. Mesmo assim, o medo persiste. A irmã de Mariana está em São Paulo, cuidando da avó de 89 anos, acompanhando as notícias do furacão, que já motivou o governo jamaicano a decretar estado de emergência e interditar portos e aeroportos.
Mariana expressa o desejo de dar visibilidade à situação para que, em caso de desastre, saibam onde o grupo está. A Embaixada do Brasil em Kingston informou que as atualizações sobre brasileiros serão feitas pelo Ministério das Relações Exteriores, que ainda não se pronunciou.
O furacão Melissa avançou para categoria 5 e pode provocar destruição inédita na Jamaica. Conforme a emissora americana ABC, ele deve atingir a ilha entre a noite de segunda-feira, 27, e a manhã de terça-feira, 28, com ventos de até 265 km/h. Meteorologistas afirmam que Melissa pode ser o mais forte furacão já registrado no país.
As chuvas previstas podem ser até quatro vezes superiores à média mensal, com estimativa de até 102 cm de precipitação em quatro dias, conforme o Serviço Meteorológico da Jamaica. A CNN reportou ordens de evacuação em áreas costeiras vulneráveis.
Antes de chegar à Jamaica, Melissa já causou quatro mortes no Caribe: três no Haiti e uma na República Dominicana, segundo BBC e Reuters.
O governo jamaicano mobiliza mais de 800 abrigos e forças militares. O ministro de Água e Meio Ambiente, Matthew Samuda, declarou que a fase de preparação terminou e pediu aos moradores que busquem locais altos para proteção, ressaltando que isso pode salvar vidas.
Com todos os aeroportos fechados, as autoridades alertam para o uso moderado dos recursos hídricos, considerando possíveis danos às redes de abastecimento. Samuda frisou que “cada gota vai contar”.
Especialistas ouvidos pela BBC e o Centro Nacional de Furacões dos EUA explicam que as águas oceânicas mais quentes aceleram a intensificação de furacões como o Melissa, dificultando as evacuações e ampliando o potencial destrutivo dessas tempestades.
Créditos: UOL