Professora critica operação policial letal e ineficaz contra CV no Rio
Operações policiais de grande escala no Rio de Janeiro, como a que resultou em mais de 60 mortos hoje, são consideradas ineficazes para desmantelar o Comando Vermelho, segundo Carolina Grillo, coordenadora do Geni-UFF (Grupo de Estudo dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense), em entrevista ao UOL News – 2ª edição, do Canal UOL.
De acordo com Grillo, o modelo de incursão armada nas favelas tem sido repetido por décadas e apenas aumenta o número de mortos, sem alterar o controle territorial do crime. Ela defende que operações federais baseadas em inteligência podem causar mais impacto estrutural.
O estado do Rio de Janeiro mantém uma política de segurança pública que prioriza operações policiais com incursões armadas em territórios de favelas, que, ao longo dos anos, demonstraram ser ineficazes no combate ao crime organizado. Essas ações interrompem o tráfico de drogas ou a atuação das milícias apenas por algumas horas.
Essas operações às vezes resultam na apreensão de armas e drogas. No entanto, frequentemente provocam a morte de pessoas, incluindo suspeitos e moradores como mulheres grávidas e crianças, além de paralisar unidades básicas de saúde, escolas e o deslocamento dos moradores para o trabalho, gerando um impacto social grave para a comunidade e para a cidade.
Segundo Carolina Grillo, o efeito dessas ações é insignificante. As ocorrências criminais não diminuem e o avanço do controle territorial armado permanece inalterado, configurando uma aposta irracional.
Ela também ressalta que a letalidade da operação mais recente ultrapassa chacinas históricas no Rio, sem precedentes em número de mortos por ação policial.
“Esta é a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro. Antes, a maior chacina havia sido no Jacarezinho, com 27 mortos civis e um policial. A operação de hoje é a mais letal, caracterizando a maior chacina já praticada por ação policial no Rio”, afirmou Carolina Grillo.
Para a especialista, operações centradas em investigações financeiras e no desmonte de redes logísticas, como as realizadas pela Polícia Federal, são mais eficientes e previnem tragédias como essas.
Ela citou a ação da Polícia Federal que apreendeu grande quantia em dinheiro do PCC, identificando conexões em São Paulo, e uma recente operação que desmantelou fábricas de fuzis no Rio, ações que tiveram impacto maior sem disparos de arma de fogo.
Além disso, Grillo destacou que os jovens, majoritariamente negros, pobres e moradores de favelas e periferias, são os principais afetados pela violência, e que mesmo os integrantes de grupos armados são facilmente substituíveis, o que impede que a ação policial cause impacto real no controle do Comando Vermelho.
Ela enfatizou que o ciclo de apreensões e confrontos apenas movimenta o mercado ilegal e mantém o controle armado, enquanto investigações inteligentes são negligenciadas.
Os fuzis e drogas apreendidos são rapidamente repostos, mantendo o lucrativo mercado do tráfico de armas e drogas. Grillo defende a necessidade de investigação inteligente que desmonte as conexões desses grupos com agentes estatais e econômicos envolvidos em lavagem de dinheiro e crimes financeiros.
A especialista considera irracional a continuidade desses tipos de operações, que geram alto custo social sem diminuir o controle armado nas favelas.
“Em vez de regulamentar esses mercados e agir de maneira planejada, o Estado promove esse caos, que provoca barulho e interrompe a rotina da população. Isso é uma demonstração de serviço pífio”, concluiu Carolina Grillo.
Créditos: UOL