Notícias
00:04

Operação policial no Rio resulta de investigação de mais de um ano contra Comando Vermelho

Nesta terça-feira (28), foi deflagrada uma operação policial no Rio de Janeiro, fruto de uma investigação que durou mais de um ano. As investigações apontaram 94 criminosos do Comando Vermelho escondidos nos complexos do Alemão e da Penha, acusados de assassinatos, tráfico de drogas, roubos de carros e outros crimes, utilizando esses locais como refúgio.

Os 27 morros que compõem esses complexos na Zona Norte do Rio estão próximos a vias estratégicas da cidade, como a Linha Vermelha — que conecta o Centro à Baixada Fluminense e ao Aeroporto Internacional do Galeão — e a Linha Amarela, que liga a Barra da Tijuca à Ilha do Governador.

Localizados em áreas montanhosas rodeadas por matas, o Alemão e a Penha facilitam a fuga dos criminosos. Segundo a polícia, dois líderes principais ordenam a tomada de territórios: Márcio dos Santos Nepomuceno, conhecido como Marcinho VP, que está preso em um presídio federal, e Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, que está foragido, com 269 anotações criminais e 26 mandados de prisão ativos.

Na mesma data da operação, o Disque-Denúncia aumentou a recompensa para R$ 100 mil por informações que levem à prisão de Doca, valor só anteriormente oferecido para captar dados sobre Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.

Nos últimos quatro anos, Doca foi responsável pela expansão do Comando Vermelho para quase 50 áreas entre bairros e favelas da capital e da Baixada Fluminense. Entre elas, a Grande Jacarepaguá, composta por 16 bairros na Zona Sudoeste, dominada pela facção em três anos. Essa região situa-se entre as florestas da Tijuca e do Parque da Pedra Branca, perto das orlas da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes.

O conflito gerado por essa expansão causou muitas mortes. Dados do Instituto de Segurança Pública do Rio indicam que, nos três primeiros anos da tomada dos 16 bairros, foram registrados 833 homicídios, a maioria resultante da disputa entre o Comando Vermelho e grupos rivais.

As investigações também revelaram formas de punição impostas pela quadrilha a moradores locais, como o episódio de uma mulher que, após se envolver em uma briga numa festa funk, foi mantida por horas em uma banheira de gelo como castigo.

Essa expansão ultrapassa o Rio de Janeiro: levantamento da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senapen) mostra que o Comando Vermelho opera em 24 estados do Brasil e no Distrito Federal, evidenciando um intercâmbio criminoso. Na operação desta terça, 30 dos alvos eram criminosos de outros estados, incluindo líderes do Comando Vermelho da Bahia, Ceará, Pernambuco, Espírito Santo, Rondônia, Amazonas e Pará.

O governador do Rio, Cláudio Castro, associou o crescimento do Comando Vermelho às restrições implantadas pela ADPF 635, que limitou operações policiais em comunidades do Rio para reduzir a letalidade policial, estabelecendo regras como a proibição de uso de escolas e unidades de saúde como bases durante as ações.

Em junho de 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que as operações ocorressem somente em casos excepcionais e aprovou um plano que previa revisão das práticas policiais e exigia a apresentação pelo governo estadual de uma proposta para reocupação dos territórios dominados pelo crime organizado. Essa proposta está em curso, e no dia 15 de outubro o estado indicou ao STF a intenção de retomar o controle da Grande Jacarepaguá.

Durante a operação, o governador destacou a necessidade de integração com o governo federal e manifestou insatisfação por não ter recebido o apoio das Forças Armadas, especialmente blindados, para auxiliar nas ações de segurança pública, ressaltando que essa luta extrapola a segurança urbana e requer suporte maior, inclusive federal. Ele afirmou que as forças de segurança do Rio de Janeiro estão sozinhas na batalha contra o crime organizado.

Créditos: g1

Modo Noturno