Operação no Rio: vazamento antecipou incursão que causou 121 mortes
As forças de segurança do Rio de Janeiro souberam quatro horas antes do início da operação policial nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte, que a ação havia vazado, segundo documento obtido pela Folha de S.Paulo.
Na madrugada de terça-feira (28), por volta de 1h, cerca de 20 homens em motocicletas entraram em confronto com policiais militares em um dos acessos dos complexos de favelas. Dois deles foram baleados e morreram no hospital posteriormente.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública foi procurada, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.
Ao final da ação, os dois feridos disseram ser chefes do Comando Vermelho no Espírito Santo e informaram que fugiam porque já sabiam da operação iminente. O vazamento foi registrado oficialmente pelos agentes policiais.
Batizada de Contenção, a operação teve como objetivo combater a facção criminosa.
De acordo com o documento, os PMs realizavam patrulhamento na estrada Ademar Bibiano, em Del Castilho, quando notaram cerca de 20 motos saindo do Complexo do Alemão. Ao avistar a viatura, o grupo fugiu em direção à avenida Itaoca.
Perto da estação Bonsucesso da SuperVia, os homens dispararam contra três policiais – um subtenente e dois sargentos – que revidaram com 25 tiros de fuzil, conforme o registro.
Após o confronto, os policiais encontraram os dois homens feridos; um portava um fuzil Taurus T4 calibre 5.56, com um carregador e 12 munições, e o outro tinha uma pistola Glock calibre 9mm, um carregador sem munições e três granadas caseiras. Os demais fugiram em direção à comunidade de Manguinhos.
Os baleados ainda apresentavam sinais vitais e foram levados de viatura ao Hospital Salgado Filho, mas não resistiram. Eles ainda não foram identificados.
O documento destaca que os feridos afirmaram serem líderes do Comando Vermelho no Espírito Santo e que deixaram o Alemão devido ao vazamento da operação policial.
Mesmo cientes de que a facção já sabia da ação, cerca de 2.500 policiais realizaram a incursão às 6h. A operação resultou na ação policial mais letal da história do Rio, com 121 mortos segundo dados oficiais.
Inicialmente, o governo do estado informou 64 mortes. Porém, no dia seguinte, moradores do Complexo da Penha relataram a retirada de dezenas de corpos de uma área de mata, acumulados em uma praça.
No início da tarde, a Secretaria de Segurança confirmou que o número real de mortos era maior, totalizando 119, entre eles quatro policiais. O governo afirmou que os demais eram suspeitos de envolvimento com o crime organizado. Posteriormente, o total atualizado alcançou 121 mortes.
Créditos: Folha de S.Paulo