Megaoperação no Rio deixa 117 mortos e 113 presos, acusações de abusos
Até o momento, as autoridades do Rio de Janeiro não divulgaram os nomes dos 117 mortos e dos 113 detidos da operação contra o Comando Vermelho, considerada a mais letal da história do Brasil.
Oficialmente, apenas os nomes dos quatro policiais mortos na ação foram divulgados.
Débora Velloso Cabral, mãe do policial Rodrigo, lamentou a morte do filho no enterro dele na quarta-feira, destacando que ele tinha apenas 40 dias na corporação e criticando o governador Cláudio Castro pela situação em que os policiais se encontravam para enfrentar o Comando Vermelho.
Movimentos de direitos humanos criticaram a operação, chamando-a de chacina e questionando sua eficácia como política de segurança pública. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos declarou-se “horrorizado” com a operação realizada nas favelas.
Na madrugada de terça para quarta, moradores do Complexo da Penha levaram dezenas de corpos para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, região conhecida como Pedreira, onde a maioria dos corpos foi retirada da mata. Esse fato aumentou para o dobro o número oficial de mortos da operação até então.
Ali, familiares começaram o reconhecimento dos corpos, incluindo Isabela Nascimento, madrinha de Jonatha Barreto da Silva, de 18 anos, que afirmou à BBC News Brasil que o estado do afilhado impossibilitava velório aberto.
Outras seis famílias também foram entrevistadas pela BBC, listando sete nomes de vítimas.
As secretarias de Segurança Pública e da Polícia Civil do Rio de Janeiro, consultadas, não explicaram a razão de não divulgar os nomes dos mortos e presos. A Polícia Militar remeteu a questão à Polícia Civil.
A polícia informou que cerca de 100 corpos passaram por necrópsia, e alguns já foram liberados para retirada por familiares. O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, declarou em coletiva esperar concluir o trabalho até o fim da semana.
Na porta do IML, Marcela Alves Martins veio do Espírito Santo para liberar o corpo do irmão Fabian Alves Martins, de 22 anos, que tentava buscar novas oportunidades no Rio antes de falecer.
De acordo com o balanço oficial, 113 pessoas foram presas, destas 33 de outros Estados, como Fabian, Jonatha e Luiz Carlos de Jesus Andrade, de 23 anos, da Bahia. A mãe de Luiz Carlos afirmou que ele não estava envolvido com crimes e que chegou a enviar mensagens pedindo ajuda na manhã de terça-feira, alertando que estavam encurralados.
Aline Alves da Silva, de 20 anos, relatou que seu irmão Alessandro Alves da Silva, de 19 anos, também enviou áudios pedindo socorro durante o tiroteio.
O Ministério Público Federal solicitou ao IML do Rio acesso em até 48 horas às perícias dos corpos das vítimas, para detalhes como a distância dos disparos.
A Defensoria Pública da União protocolou pedido para acompanhar as perícias técnicas no âmbito da ADPF 635, que regulamenta operações policiais no STF para reduzir letalidade.
Fabiana da Silva, da ouvidoria da Defensoria Pública do Rio, afirmou que alguns corpos apresentavam marcas de tortura. Relatos de constrangimento e desumanização por parte de policiais durante os reconhecimentos também foram enviados para órgãos de direitos humanos.
Familiares, como Rosiane Costa da Silva e Selma, reconheceram corpos de jovens mortos na operação, lamentando profundamente as perdas.
Joyce, esposa de Aleilson da Cunha, relatou a dor da filha de seis anos, que já sabe da morte do pai.
O MPF e a DPU pediram explicações ao governador Cláudio Castro, questionando se havia meios menos violentos para cumprir os objetivos da operação. Até o momento, não há inquérito aberto para investigar abusos policiais, embora o Ministério Público do Rio realize investigação independente.
Na quarta, o delegado Felipe Curi anunciou inquérito para investigar moradores do Complexo da Penha por suposta fraude processual, em razão de roupas de combate retiradas dos corpos levados à Praça São Lucas.
Créditos: BBC