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Lula participa de cúpula Celac-UE em meio a tensão militar e pressões sobre Rússia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da 4ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) com a União Europeia (UE), realizada em Santa Marta, Colômbia, destacando tensões relativas à presença militar dos Estados Unidos no Caribe e à pressão europeia por uma condenação à Rússia devido à guerra na Ucrânia.

Lula afirmou que o uso da força militar voltou a ser parte do cotidiano da América Latina e do Caribe, numa alusão indireta aos Estados Unidos. Os países latino-americanos pretendem incluir na declaração final da cúpula, que encerra-se na segunda-feira, referências à presença militar americana na região, mesmo sem citar nominalmente os EUA. Paralelamente, a União Europeia busca incluir no texto uma condenação explícita aos ataques russos na Ucrânia.

O presidente ressaltou que “velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais” e defendeu a região como um espaço de paz. O anfitrião colombiano, presidente Gustavo Petro, também criticou execuções extrajudiciais e pediu que Europa e América Latina atuem de maneira unificada para enfrentar abusos e correções necessárias.

Em resposta à mobilização militar americana, Lula participou da cúpula mesmo tendo que deixar temporariamente a COP30, que ocorre em Belém, para defender a soberania da região em relação aos barcos militares dos EUA no Caribe.

O presidente pontuou que as democracias não combatem o crime violando direitos constitucionais e que segurança é um dever do Estado e um direito humano fundamental. Defendeu ainda a repressão ao crime organizado por meio da cooperação internacional, citando a colaboração do Brasil com Argentina e Paraguai na tríplice fronteira.

Outro ponto sensível é a pressão dos Estados Unidos para que o Brasil classifique facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas, similar a ações em países aliados de Washington. A discussão está em evidência após uma megaoperação no Rio de Janeiro que resultou em mais de 120 mortes.

A presença de Lula na cúpula compensou ausências de última hora, incluindo a da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do presidente uruguaio Yamandú Orsi.

Durante o evento, Lula defendeu que Celac e UE são fundamentais para construir uma ordem mundial baseada na paz, multilateralismo e multipolaridade. Ele lamentou a divisão atual da América Latina e do Caribe, apontando o retorno de extremismos políticos, manipulação de informação e crime organizado como desafios que impedem a integração regional.

O presidente criticou projetos pessoais que minam a democracia e enfraquecem a cooperação regional, resultando em reuniões sem a presença dos principais líderes e com poucas ações concretas.

No âmbito comercial, Lula mencionou o acordo pendente entre Mercosul e União Europeia como exemplo da possibilidade de fortalecer o multilateralismo, esperando avanços na próxima cúpula do Mercosul em dezembro.

Especialistas indicam que a cúpula tenta buscar convergências em temas como transições digital e ecológica, mas apontam descompasso de prioridades. A crise venezuelana, por exemplo, permanece sem inclusão de atores principais como EUA e China no fórum Celac–UE.

A tentativa da UE de incluir referências à guerra na Ucrânia nos documentos enfrenta resistência de países latino-americanos que preferem uma abordagem equilibrada, baseada no diálogo e na negociação, para evitar antagonismos, especialmente em relação à Rússia, parceira próxima do Brasil e membro dos Brics.

Lula ainda destacou que a realização da COP30 no Brasil é uma oportunidade para demonstrar o potencial da região na proteção ambiental e transição energética. Citou o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, criado pelo Brasil, que valoriza a preservação das florestas.

Ele afirmou que a América Latina e o Caribe podem liderar a transição para energias limpas, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis.

Por fim, Lula defendeu que novas cadeias produtivas podem promover um desenvolvimento que transcenda o fornecimento de matéria-prima e mão de obra barata, além de ressaltar a importância de maior igualdade de gênero e o apoio para que uma latino-americana ocupe o cargo de Secretária-Geral da ONU.

Créditos: O Globo

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