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14:09

Kirill Dmitriev, negociador russo e fã dos EUA, criou plano de paz de Trump para Ucrânia

Kirill Alexandrovitch Dmitriev é uma figura controversa, conhecida por seu estilo expansivo e considerado falastrão por adversários. Fã dos Estados Unidos, estudou em Stanford e Harvard, promoveu a vacina contra a Covid-19 e é um ativo usuário das redes sociais. Nascido em Kiev, atualmente é o homem por trás do plano de paz rascunhado para Donald Trump encerrar a Guerra da Ucrânia.

No final de outubro, Dmitriev encontrou-se com Steve Witkoff, enviado de Trump em Miami, e na quarta-feira (19) os primeiros detalhes do plano, confirmado pela Casa Branca, foram revelados. O plano é amplamente favorável a Vladimir Putin.

Dmitriev nasceu em 1975 na Ucrânia soviética, em uma família de cientistas, e possui passaporte russo. Embora sua ascensão não seja recente, as recentes notícias o colocam no centro das intrigas em Moscou.

Conhecido por não ser diplomata nem parte do aparato de segurança, Dmitriev é economista formado nos Estados Unidos, destacando-se entre os tecnocratas discretos que Putin prefere. Seus críticos o chamam de vendedor sem substância, mas reconhecem sua obstinação e conhecimento real dos EUA e da Ucrânia. Ele é rejeitado na chancelaria do ministro Serguei Lavrov. Recentemente, surgiram informações que indicam divergências sobre o plano de paz.

Especulou-se que Dmitriev poderia substituir Lavrov, mas isso foi descartado por fontes próximas, que indicam que ele tem ambições maiores. Sua ligação com os EUA começou na adolescência, quando participou de um intercâmbio aos 14 anos, depois concluiu o ensino médio na Califórnia e cursou economia em Stanford. Também foi aluno de MBA em Harvard.

Dmitriev voltou à Rússia em 2000 para trabalhar no banco Goldman Sachs e na consultoria McKinsey. Em 2007, retornou a Kiev para dirigir a Icon Private Equity, fundo de US$ 1 bilhão de um oligarca. Em 2011, conheceu Vladimir Dmitriev, então líder do VEB, o banco estatal russo equivalente ao BNDES, e juntos criaram o Fundo de Investimento Direto Russo.

O fundo buscava atrair investimentos e foi afetado pela anexação da Crimeia em 2014. Até 2022, esteve envolvido em cerca de cem projetos, totalizando US$ 40 bilhões, incluindo negócios na Arábia Saudita com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

Dmitriev ganhou notoriedade global em 2020, investindo o equivalente a R$ 400 milhões na vacina Sputnik V contra a Covid-19, atuando internacionalmente para promover o imunizante, que teve sucesso moderado atribuído ao boicote ocidental. No Brasil, tentou associar-se a políticos para produzir localmente a vacina, que não foi aprovada pela Anvisa.

A Guerra da Ucrânia travou os negócios do fundo devido às sanções, mas Dmitriev teve seu retorno ao palco internacional via conexões com a primeira gestão Trump. Ele manteve contatos com aliados do ex-presidente, como Rick Gerson e Erick Prince, fundador da Blackwater.

Em relatórios de investigação sobre a eleição americana de 2016, suas conexões foram mencionadas, sem acusações. Dmitriev expressou sua satisfação no Twitter da época.

Ativo nas redes sociais, ele usa predominantemente o inglês e se tornou figura frequente na Fox News, rede preferida de Trump. Durante a cúpula entre Putin e Trump no Alasca, publicou inúmeras fotos e defendeu pontos de vista alinhados a Putin e ao movimento MAGA, adotando posições críticas sobre imigração e leis para minorias.

Em fevereiro, Dmitriev iniciou contato direto com Witkoff, que obteve a libertação de um professor americano detido na Rússia. Após Trump ligar para Putin em 12 de fevereiro, Dmitriev integrou a comitiva russa para negociações diretas pela primeira vez em quatro anos na Arábia Saudita.

No entanto, o ministro Lavrov vetou sua presença na mesa principal. Mesmo assim, Putin nomeou Dmitriev como enviado especial para assuntos econômicos.

Desde então, Dmitriev propôs projetos ousados para uma normalização das relações EUA-Rússia, incluindo um túnel ligando Alasca e Rússia e reatores nucleares para o programa espacial de Elon Musk.

Autodeclarado apolítico e fervoroso apoiador de Putin, Dmitriev conta com importantes conexões no círculo palaciano, como sua esposa Natalia Popova, amiga de Katerina Tikhonova, filha de Putin.

Agora em destaque, Dmitriev vive o ápice de sua exposição, aproveitando a iniciativa de Trump para tentar encerrar o conflito até o dia 27. O resultado dessa empreitada definirá sua relevância no Kremlin.

Créditos: Folha de S.Paulo

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