Vídeo de Bolsonaro complica anistia e redução de penas no Congresso
Integrantes do centrão avaliam que o vídeo em que Jair Bolsonaro (PL) admite ter usado “ferro quente” para tentar abrir sua tornozeleira eletrônica deve dificultar o andamento do projeto de lei da anistia no Congresso Nacional e inclusive a discussão sobre a redução de penas para condenados pelos ataques golpistas do 8 de janeiro.
Parlamentares esperavam que o tema voltasse a ser debatido na Câmara nos próximos dias. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), comentou com interlocutores no fim da semana que o relator Paulinho da Força (Solidariedade-SP) preparava ajustes no texto, que deve ser discutido com os líderes.
Na manhã de sábado (22), Paulinho afirmou à Folha que a prisão preventiva do ex-presidente poderia dar novo impulso ao projeto, facilitando “a negociação da dosimetria” das penas. No entanto, integrantes do centrão temem que a prisão aumente a resistência dos bolsonaristas, que querem uma emenda para que o plenário decida em votação se aprovará a redução das penas ou anistia.
Também membros do governo Lula (PT) consideravam que o tema retornaria à pauta da Câmara, pressionado por bolsonaristas para que leve o assunto ao plenário. Mesmo lideranças do centrão enxergavam “exageros” na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e achavam que a proposta deveria ser tratada.
A divulgação do vídeo alterou a percepção dos líderes do centrão ouvidos. A tentativa de violação da tornozeleira foi motivo para decretar a prisão preventiva e até então era vista como uma “narrativa” criada por apoiadores para desgastar Bolsonaro.
No vídeo, uma servidora da administração penitenciária do Distrito Federal pergunta a Bolsonaro quando ele tentou romper a tornozeleira, e ele responde que foi no fim da tarde, usando “um ferro quente”, especificando que se tratava de um “ferro de soldar”.
Um membro da cúpula da Câmara afirmou, em reserva, que o tema da anistia já era difícil de avançar, e agora considera “impossível” a aprovação da matéria. Segundo ele, não há clima para negociar nem a anistia nem a dosimetria das penas, alternativa discutida por bolsonaristas.
Outra liderança do centrão acredita que Motta não colocará o projeto na pauta na próxima semana, pois seguir com a matéria poderia ser visto como afronta ao Supremo e gerar críticas na opinião pública.
Um líder de partido de centro reconhece que na semana seguinte o tema não deve avançar, mas afirma que pode ser discutida mais adiante a redução de penas para os participantes da invasão dos Poderes, sem beneficiar o núcleo central do golpe.
Governistas reconhecem que bolsonaristas pressionarão Motta para que o tema seja tratado. O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou na manhã de sábado que a oposição deve obstruir os trabalhos da Câmara para pressionar pela discussão do projeto.
À tarde, após o vídeo, Sóstenes voltou a defender anistia ampla, geral e irrestrita, dizendo que a semana será de luta intensa junto aos parlamentares pela liberdade de Bolsonaro e pela ampla anistia.
Créditos: Folha de S.Paulo