Política
17:06

Hugo Motta anuncia rompimento com líder do PT na Câmara e agrava tensão com governo Lula

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), comunicou à Folha de S.Paulo que decidiu romper relações com o líder do PT na Casa, deputado Lindbergh Farias. Segundo Motta, não há mais interesse em manter qualquer tipo de relação com o petista.

Essa ruptura pode acentuar o desgaste já existente entre o governo Lula (PT) e o Congresso, especialmente com a Câmara, que enfrenta tensões também com o Senado. Conforme relatos de dois líderes camarários próximos a Motta, a relação entre ele e Lindbergh será agora apenas institucional.

Nas últimas semanas, o grupo do presidente da Câmara vinha criticando o comportamento de Lindbergh, apontando uma postura exaltada do deputado durante as discussões e um esforço para desgastar a imagem da Casa perante a opinião pública. A liderança da Câmara ainda reprovava a atuação do petista nas reuniões semanais, onde ele teria agido como se fosse líder do governo, apesar de representar apenas a bancada do PT.

Lindbergh, por sua vez, permanece um dos mais atuantes defensores do governo e usa as redes sociais e a tribuna para disseminar suas posições políticas. Em resposta à Folha, ele classificou a declaração de Motta como imatura e afirmou que política não é um “clube de amigos”. Destacou que suas posições sempre foram claras e transparentes e criticou o presidente da Câmara por atitudes tomadas em votações importantes, como nas decisões sobre o IOF, a PEC da Blindagem e a indicação de relator para um projeto do Executivo.

Além disso, Lindbergh ressaltou que se a crise de confiança existe entre o governo e Motta, a culpa está nas escolhas feitas pelo próprio presidente da Câmara, e não em sua liderança no PT.

O desgaste entre os dois deputados ganhou força com a tramitação do projeto de lei antifacção, aprovado na semana passada na Câmara. Aliados de Motta reclamam da postura do governo e seus ministros durante o processo, acusando-os de estimular ataques à Casa e de disseminar narrativas controversas sobre o conteúdo do texto.

Motta escolheu como relator do projeto Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de Segurança do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, considerado um adversário potencial do PT para 2026. Isso provocou descontentamento no Planalto e contribuiu para a tensão em torno da matéria. O relator promoveu modificações no projeto, criticadas pelo governo, que orientou voto contrário, mas acabou derrotado. O texto segue agora para análise no Senado.

O próprio presidente da Câmara manifestou publicamente seu descontentamento em entrevistas e nas redes sociais nos últimos dias.

Um líder do centrão afirma que o clima entre os parlamentares e o Planalto está ruim e cita descumprimento de acordos pelo Executivo, como na redistribuição de cargos, execuções do orçamento e matérias em pauta. Apesar disso, aliados de Motta negam rompimento com Gleisi Hoffmann, ministra responsável pela relação com o Legislativo, afirmando, entretanto, que a relação entre os dois se fragilizou.

José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, é visto por líderes do centrão como um intermediário para melhorar o diálogo entre a cúpula da Casa e o Planalto.

Motta assumiu a presidência da Câmara no início do ano com apoio amplo, incluindo PT e PL. Na época, Lindbergh e Gleisi foram importantes para consolidar essa aliança. Desde então, a relação do governo com a Câmara alternou entre momentos positivos e de desconfiança, marcada por episódios como a derrubada de medidas fiscais e a tramitação polêmica do projeto antifacção.

No contexto mais amplo, a relação do governo Lula com o Congresso está instável também no Senado, com o anúncio da indicação de Jorge Messias para o STF gerando descontentamento entre líderes da Casa, que apoiavam Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), expressou intenção de trabalhar contra a indicação de Messias.

Esta conjuntura reflete um momento tenso na política brasileira, com impactos diretos na governabilidade do governo Lula no Congresso Nacional.

Créditos: Folha de S.Paulo

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