PF prende presidente da Alerj por vazamento em operação contra grupo criminoso
A Polícia Federal deflagrou uma operação para apurar o vazamento de informações sigilosas que atrapalharam a investigação da Operação Zargun, responsável por revelar o envolvimento político do tráfico no Rio de Janeiro. O deputado Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Jóias, foi preso sob suspeita de acesso privilegiado às informações, que o teria avisado para deixar sua casa antes da ação. A operação também cumpriu mandados de prisão e busca determinados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no contexto da ADPF 635/RJ.
Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), foi preso na manhã desta quarta-feira pela Polícia Federal, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Ele é investigado por possível vazamento de dados da ação que resultou na prisão de TH Jóias em setembro. A PF identificou que o envolvimento de Bacellar nessa divulgação ilegal obstruiu as investigações ligadas à facção Comando Vermelho e ao deputado preso.
A prisão ocorreu na sede da PF após convocação para uma reunião com o superintendente. Foram feitas buscas em quatro endereços de Bacellar, localizados em Botafogo, Campos dos Goytacazes, Teresópolis e em seu gabinete na Alerj. TH Jóias também foi conduzido à sede da PF, onde permaneceu cerca de 1h20, optando por permanecer em silêncio durante as perguntas das autoridades.
A decisão de prisão, emitida pelo STF, está vinculada ao julgamento da ADPF 635/RJ, que determinou que a Polícia Federal investigue os principais grupos criminosos violentos ativos no estado e suas ligações com agentes públicos. Além disso, a decisão mandou afastar Bacellar da presidência da Assembleia.
No documento assinado por Alexandre de Moraes em 28 de novembro, o ministro destaca a participação do deputado na organização criminosa e seu papel na obstrução das investigações, enfatizando a influência exercida no Executivo estadual e o risco elevado da continuidade das ações ilegais.
Provas apresentadas incluem trocas de mensagens entre Bacellar e TH Jóias, que indicam comunicação direta. Contudo, não há evidências de contato prévio ao cumprimento da operação que prendeu TH em setembro.
O STF acrescenta que Bacellar foi o primeiro contato indicado na lista de comunicação urgente enviada por TH Jóias e tinha conhecimento antecipado da troca de número de telefone do ex-deputado. Na manhã da operação, TH enviou a Bacellar fotos do sistema de segurança mostrando a PF dentro de sua residência.
Conforme relato do jornalista Octavio Guedes, do G1, o aviso levou TH Jóias a preparar uma mudança para eliminar provas, utilizando até um caminhão-baú. Ele zerou o celular antigo e usou um novo aparelho para enviar um vídeo ao presidente da Alerj solicitando autorização para deixar objetos, incluindo um freezer, na residência, ao que Bacellar respondeu para deixar os itens no local.
A decisão judicial também cita que Bacellar teve conhecimento prévio da operação policial, orientou TH Jóias quanto à retirada de itens de interesse investigativo e que Thárcio Nascimento Salgado, assessor parlamentar, ajudou a frustrar o cumprimento dos mandados, indicando um endereço alternativo para TH Jóias na véspera da ação.
A operação Zargun, concluída em setembro, resultou na prisão de TH Jóias, acusado de tráfico, corrupção, lavagem de dinheiro e negociação de armas para o Comando Vermelho. As investigações apontam que ele usou seu mandato na Alerj para facilitar atividades criminosas, incluindo a negociação de drogas e armamentos para o Complexo do Alemão e a indicação de pessoas ligadas ao tráfico para cargos públicos.
Foram expedidos 18 mandados de prisão preventiva, com cumprimento de 15 deles, e 22 mandados de busca e apreensão em diferentes endereços na cidade, inclusive na Alerj, onde materiais foram recolhidos.
Até o momento, a Alerj não foi oficialmente informada sobre a operação, mas afirmou que tomará as providências cabíveis assim que tiver acesso às informações completas.
Créditos: O Globo