Decisão de Gilmar Mendes abre espaço para reaproximação entre Planalto e Senado
A decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes, que restringiu quem pode apresentar pedidos de impeachment contra integrantes do Supremo Tribunal Federal, provocou uma brecha para que o governo Lula busque reequilibrar sua relação com o Senado, em meio à polêmica indicação de Jorge Messias para a Corte.
A crise surgiu num momento em que a aprovação de Messias, chefe da AGU, enfrentava forte resistência, intensificada pelo cancelamento da sabatina por Davi Alcolumbre (União-AP). Senadores reclamavam da falta de diálogo do Palácio do Planalto e da condução considerada fechada na escolha do indicado. Contudo, a liminar de Gilmar Mendes rapidamente passou a focalizar a atenção, deslocando a pressão que incidia sobre Messias e unindo governistas e oposicionistas contra o ministro do STF.
Reconhecendo a nova conjuntura, a Advocacia-Geral da União reagiu com um gesto interpretado como um aceno direto ao Senado. A solicitação para que Gilmar reconsiderasse a liminar ou suspendesse seus efeitos até o julgamento do plenário foi vista por aliados como tentativa clara de promover um ambiente mais ameno, demonstrando que Messias entende a insatisfação entre os senadores.
Messias também buscou avaliar o cenário antes de avançar, consultando ministros do STF que possuem influência no Senado, incluindo André Mendonça e Nunes Marques, que têm atuado discretamente em seu apoio. A estratégia indica a tentativa do advogado-geral de construir canais de diálogo para viabilizar sua aprovação.
No Senado, essa movimentação ajudou a aliviar a pressão imediata sobre a indicação. A crise criada pela decisão de Gilmar começou a ser vista como uma oportunidade para reabrir o diálogo entre Lula e Alcolumbre, cuja relação está travada. Aliados do governo avaliam que a turbulência desvia o foco da disputa pela vaga no STF e cria espaço para que o Planalto recupere apoios ao longo de dezembro e janeiro. A expectativa atual é que a sabatina ocorra em fevereiro.
Esse movimento não está isento de riscos. Ao enfrentar a decisão de Gilmar Mendes, Messias pode ter incomodado ministros que frequentemente são alvos de pedidos de impeachment e que viam a liminar como uma proteção necessária. Ainda assim, no cálculo imediato do Planalto, o impacto foi considerado positivo.
Créditos: CartaCapital