Política
08:05

PF investiga ato de Cláudio Castro ligado a deputado preso por vínculos com CV

Um despacho do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), está sob investigação da Polícia Federal (PF) como a primeira ação direta do chefe do Executivo estadual na apuração sobre a influência do Comando Vermelho (CV) dentro do Palácio Guanabara.

O ato, assinado às pressas por Castro, obrigou a publicação de uma edição extraordinária do Diário Oficial do Estado em 3 de setembro, no mesmo dia em que o ex-deputado TH Joias (Thiego Raimundo dos Santos Silva) foi preso pela PF sob suspeitas de lavagem de dinheiro, compra de armas e drones, além de relações pessoais suspeitas com líderes da facção no Rio.

Na ocasião, o governador exonerou rapidamente o então secretário estadual de Esporte e Lazer, Rafael Picciani (MDB), herdeiro político de Jorge Picciani, preso pela PF quando presidia a Alerj, além de Rodrigo Bacellar, atual presidente da Casa, preso recentemente.

Fontes ligadas à investigação informaram ao Estadão que a manobra buscava forçar a saída de TH Joias do cargo para evitar que a Alerj precisasse votar pela manutenção ou relaxamento da prisão do parlamentar, conforme as normas locais.

Em nota, o governo do Rio esclareceu que o retorno de Rafael Picciani à Alerj estava previsto para que ele participasse das votações de um pacote de projetos estaduais voltados à segurança pública.

TH Joias tornou-se deputado após a morte de Otoni de Paula Pai em maio do ano anterior. Rafael Picciani, primeiro suplente, não assumiu o mandato inicialmente porque estava no secretariado de Castro, o que permitiu a posse de TH Joias. Com a volta de Picciani à Assembleia, o deputado preso perderia automaticamente seu assento, eliminando a necessidade de avaliar sua prisão.

Essa articulação rápida entre as autoridades é vista como um esforço para evitar um processo político que poderia expor a Alerj, seja liberando um parlamentar com antecedentes de tráfico suspeito de ligação com o CV, ou seja, mantendo a prisão que poderia romper as conexões com a facção no Legislativo.

No dia da movimentação, Castro usou as redes sociais para anunciar a troca, afirmando que “por minha determinação, o deputado estadual Rafael Picciani está retomando seu mandato na Assembleia Legislativa”, destacando que ele substituiria TH Joias, preso na ação conjunta das polícias Civil, Federal e do Ministério Público.

Na decisão que ordenou a prisão de Rodrigo Bacellar, ministro Alexandre de Moraes, do STF, indicou que o processo associado ao ato assinado por Castro estaria ligado à garantia de votos para as eleições de 2026.

O despacho de Castro foi qualificado como uma “célere manobra regimental” destinada a controlar danos, afastando TH Joias para desvincular a imagem da Alerj do parlamentar investigado, aliado político e frequente participante de eventos institucionais dos poderes Executivo e Legislativo.

Segundo os investigadores, essa ação obstrutiva teria ainda o objetivo secundário de manter a ligação dos agentes políticos com o Comando Vermelho, que controla significativamente o território do Rio e representa milhões de votos nas próximas eleições.

Por fim, Moraes determinou que o governo forneça todas as informações sobre o acesso aos sistemas oficiais que envolveram documentos da exoneração de Picciani, incluindo horários, responsáveis e logs, bem como dados referentes à edição extraordinária do Diário Oficial do dia 3 de setembro.

O governo do Rio ratificou que a volta de Picciani à Assembleia estava planejada para sua participação nas votações de projetos de segurança pública. Com a prisão de TH Joias na manhã de 3 de setembro, Picciani pediu exoneração da Secretaria de Esporte e Lazer, tendo sua saída aceita por Castro para garantir o afastamento imediato de Joias e a imparcialidade nas investigações.

O procedimento de exoneração iniciou-se com um ofício da Secretaria para a Casa Civil via sistema SEI, seguido pela elaboração e publicação do ato no Diário Oficial, assinado pelo próprio Picciani às 14h07 do dia 3 de setembro.

A gestão de Cláudio Castro enfatiza o combate ao crime organizado, evidenciado pela Operação Contenção nos complexos da Penha e do Alemão, que resultou na prisão de 99 criminosos e neutralização de outros 117 ligados ao Comando Vermelho, ressaltando o compromisso com a desarticulação da facção.

Créditos: noticias uol

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