Política
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Bolsonaro indica Flávio para disputar presidência em 2026 e busca unificar direita

O senador Flávio Bolsonaro (PL) foi anunciado como indicado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a corrida presidencial de 2026, em um movimento que reflete três possíveis hipóteses.

A principal delas aponta para a tentativa de Jair Bolsonaro de manter a influência e o controle sobre a direita, mesmo estando preso. O anúncio ocorre em meio a divisões internas no grupo, que incluem ataques do deputado Eduardo Bolsonaro (PL) ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e a união dos filhos contra Michelle Bolsonaro (PL), ex-primeira-dama.

A escolha de Flávio parece ser um recado para reafirmar quem comanda e para unificar a direita sob a liderança de Bolsonaro.

Este movimento vem no mesmo período em que Michelle Bolsonaro expressou sua independência política, ao rejeitar publicamente uma aliança com o ex-ministro Ciro Gomes no Ceará, contrariando a orientação oficial do partido, que era apoiada pelo próprio Bolsonaro. Michelle não recuou, e coube a Flávio anunciar desculpas, além do PL suspender o acordo para acalmar a situação. Muitos membros da legenda consideram que a militância apoia Michelle.

Bolsonaro tem pouco a ganhar ao criticar publicamente Michelle ou romper com ela, devido à sua popularidade entre o eleitorado de direita. Assim, apoiar Flávio pode ser uma forma indireta de conter as ambições políticas da ex-primeira-dama, que chegou a ser cogitada para a chapa presidencial.

Ainda que Bolsonaro não tenha atacado Michelle diretamente, ele fortalece Flávio, seu filho e representante, como sucessor em um momento político delicado.

As outras hipóteses não excluem essa intenção. Uma delas indica que Bolsonaro estaria realmente disposto a apoiar Flávio até o fim da disputa. Contudo, pesquisas sugerem que Flávio vai menos bem em um segundo turno contra o presidente Lula (PT) do que outros concorrentes do campo à direita, como Tarcísio Freitas, Michelle Bolsonaro e Ratinho Jr. Segundo Datafolha de agosto, Lula tinha 48% e Flávio, 37%. Uma pesquisa Quaest de setembro revelou que só 1% das pessoas considerava Flávio o substituto ideal para Bolsonaro.

Nessa perspectiva, Bolsonaro poderia estar disposto a sacrificar a eleição presidencial para preservar o capital político da família. Alguns membros do PL acreditam que a candidatura de Flávio engajaria mais a militância do que uma versão mais moderada, potencialmente ajudando a legenda a eleger uma bancada maior para o Senado, foco da família Bolsonaro e do partido. Essa bancada defenderia medidas como o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal e anistia para Bolsonaro e seus aliados condenados em processos do dia 8 de janeiro.

Por outro lado, o centrão não apoia a candidatura de Flávio, por considerá-lo incapaz de unir o centro político, o que pode resultar em seu isolamento e a possibilidade de outras candidaturas de direita surgirem, tornando mais difícil a eleição do filho de Bolsonaro.

A última hipótese é que o anúncio seria apenas um recado ou blefe, já que parlamentares duvidam que Bolsonaro realmente financiará a candidatura do filho, dado seu comportamento instável e o fato de Flávio estar sob investigação do Supremo Tribunal Federal. O ministro Alexandre de Moraes, ao decretar a prisão preventiva de Bolsonaro, mencionou Flávio diretamente, citando sua convocação para atos como repetição de modus operandi de “organização criminosa” e incitação ao desrespeito às instituições.

No cenário político, acredita-se que Flávio tem limites e que uma candidatura poderia custar caro se ele cometer erros. Considerando sua percepção de perseguição judicial contra a família, não está claro se Bolsonaro arriscaria o futuro do filho, que escapou de julgamento por suposto esquema de “rachadinha” em seu gabinete na Assembleia Legislativa.

Em resumo, o anúncio de apoio à candidatura de Flávio reflete um esforço de Jair Bolsonaro para manter controle sobre a direita, conter ambições internas e preparar a sucessão dentro do clã em meio a desafios jurídicos e políticos.

Créditos: Folha de S.Paulo

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