Política
06:05

PL vê Flávio Bolsonaro como opção mais pragmática para presidência em 2026

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é considerado por membros do PL uma alternativa mais pragmática do que Michelle Bolsonaro (PL) para disputar a Presidência da República em 2026. Flávio confirmou sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto ontem.

Antes da escolha de Flávio como pré-candidato, o PL avaliava dois caminhos: um mais racional e estratégico, e outro que dobraria a aposta no discurso ideológico. Michelle Bolsonaro seria a representante dessa segunda via, apostando em um perfil evangélico e em falas contra Ciro Gomes (PSDB) e o centrão para reavivar o bolsonarismo que venceu em 2018.

Parlamentares do PL preferiam Flávio, já que Michelle sempre foi vista como distante. A tentativa dela de lançar aliados, como no Ceará, aumentou a resistência interna. Deputados bolsonaristas acreditam que Michelle daria destaque a mulheres aliadas na campanha, ocupando espaço atualmente dos parlamentares masculinos.

A escolha de Flávio reforça o plano do PL de eleger uma bancada numerosa no Senado, com a meta de 40 senadores em 2026 em parceria com aliados. A ideologia promovida por Michelle e sua preferência por apadrinhados complicava esse projeto. Flávio, que está no Senado desde 2019, é próximo do centrão.

Apesar do pragmatismo atribuído a Flávio, ele mantém discurso radical. Em entrevista à Folha de S.Paulo em julho, afirmou que o candidato à Presidência deveria confrontar o Supremo para buscar o indulto do ex-presidente Bolsonaro. “Estamos falando de possibilidade e de uso da força”, declarou.

O cientista político Eduardo Grin, da FGV, esclarece que Flávio e Michelle representam alas diferentes dentro do bolsonarismo. Flávio é a ala pragmática, favorável a composições estaduais para garantir palanques e eleger senadores; Michelle encarna a visão de que o bolsonarismo é forte o bastante para enfrentar adversários sem concessões.

O bolsonarismo vive uma disputa entre uma ala mais raiz, ligada a setores evangélicos e conservadores que rejeitam alianças com o sistema, e uma ala mais pragmática liderada por Flávio, que entende a importância de palanques estaduais para enfrentar a máquina governamental.

Conflitos recentes no PL, como no Ceará, evidenciam esse dilema. A crítica de Michelle à aproximação do PL com Ciro Gomes e seu apoio ao senador Eduardo Girão (Novo) gerou forte reação dos filhos de Bolsonaro, que apoiaram Flávio. Ele atribuiu os atritos a “ruído de comunicação” e afirmou que Michelle desconhecia o acordo do partido no Ceará. Mesmo assim, o PL suspendeu as negociações com Ciro após as críticas.

Sobre essa relação, Grin destaca que Ciro Gomes teria dificuldades em se aliar à extrema direita, que não combina com seu perfil, enquanto poderia moderar o PL no estado, atualmente governado pelo PT.

Em Santa Catarina, a pré-candidatura de Carlos Bolsonaro ao Senado desorganizou um acordo entre o PL e o Progressistas, que previa lançamentos distintos para as duas vagas. A deputada Carol de Toni, aliada de Michelle, ameaçou deixar o partido caso não tenha espaço para disputar a vaga. O governador Jorginho Mello (PL) defende a aliança com o PP para fortalecer seu projeto de reeleição.

O cientista político Jean Gabriel Castro, da UFSC, aponta que Santa Catarina é um dos estados mais bolsonaristas e que divisões internas podem refletir rachas nacionais e até mesmo dentro da família Bolsonaro.

Para Grin, uma candidatura presidencial no Brasil depende de palanques estaduais fortes. Rachas nos estados como Ceará e Santa Catarina podem diminuir o potencial de voto do bolsonarismo e afetar a eleição de parlamentares, já que muitos dependem do sucesso do candidato presidencial em seu estado.

Créditos: UOL Notícias

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