Trump reaviva Doutrina Monroe e foca segurança dos EUA na América Latina
A pressão dos Estados Unidos sobre o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, as ameaças de combater o narcotráfico e até intervenções militares diretas na Colômbia e México, os ataques a embarcações supostamente ligadas a cartéis no Mar do Sul do Caribe, e planos para tomada do Canal do Panamá revelam um novo foco da política de Washington.
O governo do presidente Donald Trump publicou o documento Estratégia de Segurança Nacional, que direciona a política de segurança dos EUA para a América Latina, resgatando a chamada “Doutrina Monroe” com o nome de “Doutrina Corolário Trump”. O texto menciona o “desaparecimento da civilização europeia” e propõe restaurar o “predomínio dos Estados Unidos” na região latino-americana.
Essa mudança busca reforçar a visão “America First”, posicionando os EUA à frente, e reposiciona a política externa para priorizar o Hemisfério Ocidental. O documento anuncia que o país ajustará sua presença militar para enfrentar ameaças consideradas urgentes nesta região, afastando-se de cenários considerados menos relevantes para a segurança nacional nos últimos anos.
Ernesto Samper Pizano, ex-presidente da Colômbia e ex-secretário-geral da Unasul, critica essa política e acusa Trump de ter destruído uma cooperação bilateral de mais de 30 anos no combate às drogas, afirmando que isso decorre de uma diplomacia baseada em alinhamentos ideológicos extremos.
Denilde Oliveira Holzhacker, professora e doutora em ciência política, caracteriza a Doutrina Corolário Trump como uma reedição da Doutrina Monroe, que estabelece o continente americano como área de influência exclusiva dos EUA, proibindo potências regionais de atuarem ali. Ela ressalta que essa postura provoca uma política mais intervencionista e coercitiva, especialmente em temas como imigração, narcotráfico e controle de armas.
Holzhacker alerta para o risco de reacender um forte sentimento antiamericano na América Latina, citando que ações americanas anteriores similares causaram instabilidade interna e mudanças de regime alinhadas aos interesses dos EUA. Ela explica que o Corolário Roosevelt previa coerção, mas também buscava prosperidade regional por meio de investimentos americanos.
Além disso, a especialista identifica que o documento direciona claramente uma mensagem à China, sinalizando que os EUA não aceitarão sua presença estratégica na região. O texto reafirma o continente americano como prioridade na contenção da ascensão chinesa, enquanto sugere uma menor atuação na proteção de aliados europeus e um ajuste no relacionamento com a Rússia.
Denilde conclui que o documento reflete a visão “America First”, expressando uma política externa mais coercitiva porém menos intervencionista globalmente, que busca coerência nas ações do governo Trump e reposiciona os interesses americanos, deixando seus aliados em situação de menor proteção.
A Doutrina Monroe, criada em 1823 pelo presidente James Monroe, estabelecia que as potências europeias deveriam respeitar o Hemisfério Ocidental como área de influência exclusiva dos Estados Unidos, proibindo sua interferência nos assuntos das Américas do Norte, do Sul e do Caribe.
Créditos: Correio Braziliense