José Antonio Kast vence presidência do Chile e traz retorno à direita
As urnas confirmaram as pesquisas eleitorais: o ex-deputado de ultradireita José Antonio Kast foi eleito presidente do Chile, derrotando a governista Jeannette Jara, e assumirá o governo no ano seguinte.
Com 83% dos votos apurados, Kast, do Partido Republicano, obteve 58,6% dos votos válidos, enquanto Jara, do Partido Comunista, alcançou 41,48%, conforme dados preliminares do Serviço Eleitoral do Chile.
Kast, com 59 anos, será o presidente mais à direita do país desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Esta foi sua terceira tentativa de chegar ao cargo.
Temas como ordem pública e controle da imigração irregular foram decisivos para sua vitória. Embora o Chile tenha uma baixa taxa de homicídios em comparação a países vizinhos, a criminalidade é uma das maiores preocupações nacionais.
Ambos os candidatos prometeram proteger a fronteira norte, controlar a entrada de imigrantes — especialmente venezuelanos — e combater o crime organizado, mas Kast propôs medidas mais rigorosas. Inicialmente, prometeu expulsões em massa de imigrantes, depois revisou a proposta para restringir acesso a serviços básicos a estrangeiros em situação irregular e propôs prisões isoladas para líderes do tráfico.
Diferentemente das tentativas anteriores, Kast adotou um discurso moderado nesta eleição, evitando temas como direitos humanos, casamento igualitário e a ditadura de Pinochet. Ele declarou que buscará aliados para formar um “governo de emergência” focado no combate à criminalidade.
A eleição de Kast marca o fim de um ciclo histórico iniciado após os grandes protestos de 2019, que levaram à vitória do esquerdista Gabriel Boric há quatro anos, bem como à tentativa de redigir uma nova Constituição.
Advogado ultracatólico e ex-congressista, Kast pode se tornar o primeiro presidente a apoiar publicamente Pinochet. Contudo, nesta campanha, tentou não evidenciar suas convicções ultraconservadoras e enfatizou a crise de segurança que atribui à administração Boric, mesmo com as baixas taxas de homicídio.
Kast recebeu ligações de Jara e do atual presidente Gabriel Boric, para quem perdeu as eleições de 2021. Também recebeu apoio de dois ex-concorrentes de direita, Evelyn Matthei e Johannes Kaiser.
Jara afirmou que continuará trabalhando pelo país, enquanto Boric minimizou a relação entre sua avaliação e o resultado eleitoral, afirmando que “o Chile está decidindo seu futuro”.
Outro candidato, Franco Parisi, que ficou em terceiro lugar e não apoiou nenhum dos dois no segundo turno, classificou a eleição como “a pior possível” e apontou a polarização entre antifascismo e anticomunismo.
Durante a votação, ex-presidente Michelle Bachelet ressaltou a importância de respeitar a democracia e a vontade popular.
O serviço eleitoral informou que quase 15 milhões de pessoas estavam aptas a votar no Chile e no exterior. A multa para eleitores ausentes varia de 30 mil a 130 mil pesos chilenos (R$ 108 a R$ 611).
O próximo presidente enfrentará um Legislativo sem maioria absoluta, ainda que com votação favorável à direita, que poderá formar maiorias pontuais. O bloco de direita e ultradireita ficou a duas cadeiras da maioria na Câmara dos Deputados e empatou com a centro-esquerda e esquerda no Senado.
Créditos: Folha de S.Paulo