Enel diz estar disposta a ampliar fiação subterrânea em São Paulo, mas descarta deixar concessão
A Enel São Paulo declarou, na quarta-feira (17 de dezembro de 2025), estar aberta a expandir o enterramento da rede elétrica na capital paulista para reduzir falhas no fornecimento causadas por tempestades. Apesar disso, a distribuidora descartou a possibilidade de abrir mão da concessão.
A manifestação da concessionária ocorreu um dia após o anúncio conjunto dos governos federal, estadual e municipal de que irão acionar a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para abrir processo de caducidade do contrato da Enel em São Paulo.
Em comunicado, a empresa enfatizou que a substituição da fiação aérea por redes subterrâneas demanda investimentos expressivos e um plano estruturado, que deve ser coordenado com as autoridades públicas. A Enel também destacou a necessidade de discutir mecanismos de remuneração para tornar viáveis financeiramente esses investimentos, que têm alto custo e podem afetar o valor da tarifa de energia.
Especialistas apontam o enterramento dos cabos como uma das principais medidas para reduzir apagões provocados por ventos fortes e quedas de árvores. Em São Paulo, menos de 1% dos mais de 20 mil quilômetros de rede é subterrânea. O programa municipal SP Sem Fios, iniciado em 2017, conseguiu enterrar pouco mais de 46 quilômetros até o momento.
A posição da Enel foi divulgada após um apagão ocorrido no dia 10 de dezembro na Grande São Paulo, quando um ciclone extratropical causou ventos de quase 100 km/h e deixou cerca de 2,2 milhões de imóveis sem energia. Seis dias depois, mais de 30 mil clientes ainda não tinham luz, de acordo com dados oficiais. Eventos similares também ocorreram em 2023 e 2024.
Na terça-feira (16 de dezembro), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), informaram que vão solicitar à Aneel a abertura do processo de caducidade da concessão, que é uma medida extrema prevista para casos de descumprimento contratual. O contrato da Enel com o estado vai até 2028.
A distribuidora afirmou cumprir integralmente os indicadores regulatórios e relatou avanços nos índices de qualidade do serviço, conforme fiscalizações da Aneel.
Desde que assumiu a concessão, no final de 2018, a Enel afirma ter investido mais de R$ 10 bilhões na rede paulista. Para o período de 2025 a 2027, o plano de investimentos prevê R$ 10,4 bilhões.
A empresa disse ainda ter reforçado equipes, ampliado manutenções preventivas e dobrado o número de podas de árvores próximas à rede elétrica.
Porém, a prefeitura questiona esses dados. Ricardo Nunes afirmou que, durante o apagão, câmeras municipais registraram um menor número de equipes da Enel nas ruas.
Além da pressão política, a concessionária também sofre questionamentos de órgãos de controle. Nove dias antes do apagão, a área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou que a Aneel considerasse a possibilidade de intervenção federal na distribuidora, indicando o não cumprimento de parte dos Planos de Resultados e a baixa eficácia das punições aplicadas, que desde 2020 somam mais de R$ 374 milhões em multas, embora a maioria esteja suspensa por decisões judiciais.
Em nota, a Enel Brasil reforçou a importância de uma avaliação ampla para enfrentar os desafios do fornecimento de energia em uma cidade densamente populosa como São Paulo, ressaltando que a região está cada vez mais exposta a eventos climáticos extremos.
A empresa apontou que a solução envolve investimentos massivos em redes resilientes e digitalizadas, além da implantação em larga escala de redes subterrâneas, o que necessita de plano estruturado e coordenação com autoridades públicas para definir modalidades adequadas de remuneração.
A Enel reafirmou que está disposta a realizar esses investimentos em parceria com as instituições envolvidas.
Também destacou que, a partir de 2024, reforçou seu plano operacional e ampliou sua força de trabalho com cerca de 1.600 novos profissionais.
Quanto ao episódio de 10 de dezembro, informou que mobilizou todos os esforços para atender os consumidores afetados pelo intenso ciclone extratropical.
A distribuidora confirmou o cumprimento integral dos indicadores regulatórios e avanços consistentes nos índices de qualidade do serviço, conforme fiscalizações recentes da Aneel.
Por fim, a Enel Brasil reafirmou confiança no sistema jurídico e regulatório brasileiro para garantir estabilidade para os investidores com compromissos de longo prazo no país.
Créditos: Poder360