Opinião
17:04

Não deve haver trégua no combate ao crime organizado no Brasil

Na segunda-feira, o ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes foi perseguido e baleado após sair da Prefeitura de Praia Grande (SP), onde ocupava o cargo de secretário de Administração Pública. Ainda não se sabe quem são os assassinos, mas as circunstâncias indicam possível envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC). Quando chefiava a Delegacia de Roubo a Bancos em 2006, Ferraz foi responsável por indiciar toda a liderança da facção criminosa.

Há menos de três semanas, uma força-tarefa formada pela Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público de São Paulo realizou a maior operação para asfixiar financeiramente o PCC. O atentado ocorrido em uma via movimentada no litoral paulista, em horário de grande circulação, aparenta ser uma reação para chocar a opinião pública e intimidar os investigadores do crime organizado.

Diante deste assassinato covarde, o Estado precisa agir com rigor. A principal medida é fortalecer o enfrentamento para eliminar a influência do PCC e de outras facções nas diversas áreas da economia e política, promovendo sua asfixia financeira. É fundamental não enfraquecer essa luta.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) deve intensificar a investigação para identificar os responsáveis, ao mesmo tempo em que deve assegurar que as ações policiais evitem excessos. A maior parte da força policial é formada por profissionais sérios e corajosos, dedicados a proteger a população respeitando a lei, mas o histórico recente gera preocupação.

Em julho de 2023, um policial da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) foi assassinado no litoral paulista. Após isso, denúncias de violações durante ações policiais na região foram registradas. Além disso, o governo estadual precisa revisar o programa de proteção a agentes policiais, ativos e aposentados.

Ferraz tinha uma trajetória notável no combate ao PCC e nos últimos tempos demonstrava preocupação quanto à segurança de sua família e a sua própria. Em entrevista ao GLOBO e à rádio CBN no fim de agosto, disse sentir-se desamparado: “Tenho proteção de quem? Moro sozinho, vivo sozinho na Praia Grande, que é no meio deles. Para mim é muito difícil. Se fosse um policial da ativa, teria estrutura para me defender. Hoje não tenho nenhuma”. Em 2023, ele foi assaltado enquanto saía de um restaurante com sua esposa.

Este assassinato é a segunda execução no estado em menos de um ano. No final do ano passado, o delator do PCC Antônio Vinícius Lopes Gritzbach foi morto a tiros ao sair do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Três policiais militares acusados de envolvimento foram denunciados, além de outros 14 por fornecer escolta ao criminoso. É essencial erradicar a contaminação das forças policiais pelo crime organizado.

As principais facções criminosas atuantes no país estão preocupadas com a cooperação entre governos federal e estaduais. Investigações detalhadas alcançaram o centro financeiro do país, localizado na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, e também revelaram fraudes no mercado de combustíveis.

Há ainda muito a ser feito. A melhor forma de honrar a memória de Ferraz e de todos os policiais mortos em confrontos com criminosos é manter firme, e dentro da lei, o combate ao crime organizado sem sombra de trégua.

Créditos: O Globo

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