A visita de Mário de Andrade e Câmara Cascudo à Currais Novos (1928)
Um dos líderes da Semana de Arte Moderna de São Paulo e considerado um dos maiores nomes da literatura brasileira, Mário de Andrade realizou algumas visitas etnográficas pelo interior do Brasil na década dos anos 1920 para conhecer melhor a cultura nacional. A viagem ao Rio Grande do Norte aconteceu no final de 1928, acompanhado de Câmara Cascudo e do paraibano Antônio Bento de Araújo Lima.
Em um dos artigos do seu diário “Viagem Etnográfica”, publicado em 02.03.1929, com data de 22 de janeiro, Mário de Andrade descreve sobre sua passagem pelo sertão do Seridó.
“Almoçamos em Currais Novos e uma hora depois, 13 e 20, de novo entre pedra e chique-chique, as juremas sempre rareadas, principia o facheiro pardo sujo, implorando a licença para se chamar de verde, anunciando a serra do Doutor”.
Sobre o roteiro no interior do Estado, Câmara Cascudo relembrou, em texto publicado no “Diário de Natal” e em outros jornais, como o Correio Braziliense, em 1962, a passagem por Currais Novos ao escrever sobre as bodas de ouro sacerdotais do Padre Ulisses Maranhão, pároco da cidade que os recepcionou na ocasião.
“Em dezembro de 1928, o escritor paulista Mário de Andrade, Antônio Bento de Araújo Lima e eu, a convite do presidente (governador) Juvenal Lamartine, fizemos uma volta pelo Estado. O Padre Ulisses paroquiava Currais Novos. Lá o encontramos e almoçamos juntos. Ulisses evocou suas viagens à Europa, observações, críticas, narrativas. Mário de Andrade, que não adulava nem agradava a ninguém, ouvia-o sem pestanejar. Quando rodávamos para Natal, Mário nos disse:
– Lamento é que esse Padre não escreve o que nos disse!”
Padre Ulisses deixou sua marca em Currais Novos. Em 01.01.1930, fixou a grandiosa cruz, antes na frente da Matriz de Sant’Ana, na Pedra do Navio, a nomeando de “Pedra do Cruzeiro”.
Pesquisa: Diário de Natal (29.05.1962); Correio Braziliense (03.06.1962); Diário Nacional (02.03.1929
01: Mário de Andrade e Câmara Cascudo, em 1929, no sertão do RN. (Foto: Fundo Mário de Andrade do Arquivo IEB/USP)
Por João Bezerra Jr. Jornalista\Historiador