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Aliança de Milei domina 16 províncias e desafia peronismo na Argentina

Com um resultado que surpreendeu analistas, opositores e o próprio governo de Javier Milei, a coalizão governista A Liberdade Avança venceu em 16 das 24 províncias da Argentina neste domingo (26), conquistando o controle da maior parte do mapa eleitoral do país.

Com mais de 99% das urnas contabilizadas, o partido de Milei alcançou 40,6% dos votos nacionais, enquanto o peronismo, representado pela Frente Força Pátria nas esferas nacional e regional, obteve 31,7%.

A maior surpresa veio da província de Buenos Aires, principal fortaleza do peronismo e o maior colégio eleitoral do país. Há pouco mais de um mês, os peronistas haviam vencido as eleições legislativas locais por quase 14 pontos percentuais. Desta vez, Milei e seus aliados reverteram a situação e venceram por uma margem apertada de pouco mais de 0,5 ponto percentual. Com 98% das urnas apuradas, A Liberdade Avança obteve 3,605 milhões de votos (41,5%), Frente Força Pátria teve 3,559 milhões (40,9%).

Diego Santilli, que substituiu José Luis Espert como principal candidato a deputado após este último renunciar devido a ligações com um empresário investigado por narcotráfico, superou o peronista Jorge Taiana, ex-ministro da Defesa entre 2021 e 2023 no governo de Alberto Fernández. Das 35 cadeiras da Câmara dos Deputados da província em disputa, a aliança governista conquistou 17, enquanto o peronismo ficou com 16.

Em discurso de vitória na noite do domingo, Milei destacou que “o novo Congresso será fundamental para garantir uma mudança de rumo” e anunciou reformas importantes.

Nesta segunda-feira (27), o presidente declarou que “o pior já passou” e que está pronto para a segunda fase de seu governo. Ele afirmou não ter pressa para avançar em reformas e deve tomar medidas somente após a posse dos parlamentares, em 10 de dezembro. “Estávamos em situação pior do que em 2001 e 2002. Conseguimos recompor e o pior já passou”, disse ao canal A24. Ele também comentou ser “uma consagração histórica”, criticando o kirchnerismo e a esquerda que, segundo ele, tentaram minar sua vitória. “Temos um terço da Câmara dos Deputados”, acrescentou.

A nova composição da Câmara dos Deputados, que possui 257 cadeiras, terá A Liberdade Avança com 93 parlamentares. Espera-se que conte com o apoio dos 14 deputados do PRO, partido do ex-presidente Mauricio Macri, totalizando 107 deputados, ultrapassando um terço da Casa (86 vagas). Isso garante que vetos presidenciais não serão derrubados, mas o partido ainda precisará negociar para alcançar maioria simples, que são 129 cadeiras.

Na oposição, a Frente Força Pátria terá 96 deputados; Províncias Unidas, 17; Frente de Esquerda, 4; UCR e Democracia Sempre, 3 cada; Coalizão Cívica, 2; independentes provinciais, 12; e outros, 13.

No Senado, com 72 vagas, A Liberdade Avança terá 19 senadores e o PRO, 5. A maior bancada individual será do Força Pátria, com 26 senadores. UCR terá 10, Províncias Unidas 5, movimentos provinciais 6 e haverá um senador independente.

O resultado provocou tensões internas no peronismo, com o grupo ligado à ex-presidente Cristina Kirchner criticando o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, por ter separado as eleições provinciais das nacionais, o que, segundo eles, desmobilizou a militância.

Além da província de Buenos Aires, o partido de Milei triunfou também na Cidade de Buenos Aires (distrito federal), Chubut, Corrientes, Córdoba, Entre Ríos, Jujuy, La Rioja, Mendoza, Misiones, Neuquén, Río Negro, Salta, San Luis, Santa Fé e Terra do Fogo.

O peronismo e aliados venceram em Formosa, La Pampa, Catamarca, San Juan, Santa Cruz e Tucumán, que são províncias de menor destaque eleitoral.

Em Santiago del Estero, a força local Frente Cívico por Santiago venceu com 51,4% dos votos, e em Corrientes, o partido Vamos Corrientes obteve 33,9%.

A terceira via, composta por governadores que buscavam romper o embate entre mileístas e peronistas, chamada Províncias Unidas, teve desempenho modesto, elegendo 17 deputados e 5 senadores nacionalmente.

A decisão de Milei de não compor com Províncias Unidas e concorrer com candidatos próprios em todo o país preocupava, mas duas províncias em que venceu, Córdoba e Santa Fé, reforçaram a eficácia da estratégia.

Em Córdoba, o partido A Liberdade Avança obteve 822,2 mil votos (42,4%), contra 550 mil (28,3%) da Províncias Unidas. Assim, conquistou 5 das 9 cadeiras de deputado da província.

Em Santa Fé, onde o governador Maximiliano Pullaro representava uma ameaça à estratégia de Milei, A Liberdade Avança recebeu 681,5 mil votos (40,7%), o peronismo teve 481 mil (28,7%) e Províncias Unidas, 307 mil (18,3%). Das 9 vagas, a aliança do presidente ficará com 4.

Este cenário reforça a posição de Milei no cenário político e representa um revés significativo para o peronismo tradicional.

Créditos: Folha de S.Paulo

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