Economia
15:07

Bloqueio petrolífero dos EUA à Venezuela pode agravar crise econômica

Para a Venezuela, o petróleo é a base da sua economia e a principal fonte de divisas para importar alimentos, remédios e outros bens essenciais. O bloqueio “total e completo” a petroleiros sancionados que entram ou saem da Venezuela, anunciado pelos EUA, pode impactar tanto o governo de Nicolás Maduro quanto a população venezuelana.

Especialistas alertam que a medida pode gerar efeitos contrários ao esperado pelos EUA. O presidente Donald Trump anunciou o bloqueio nas redes sociais, acusando Maduro de usar petróleo “roubado” para financiar atividades criminosas como narcoterrorismo e tráfico de pessoas.

Uma semana após a apreensão de um petroleiro na costa venezuelana, que Caracas classificou como “roubo” e “pirataria”, outro navio foi capturado no sábado (20). Trump também informou que a Venezuela está cercada pela maior armada já reunida na América do Sul, com presença militar americana crescente.

A Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do mundo e condenou o bloqueio como uma ameaça que visa roubar suas riquezas. Desde setembro, os EUA há uma presença militar significativa na costa venezuelana, com mais de 15 mil soldados e o porta-aviões USS Gerald R. Ford, além de ataques aéreos que resultaram em pelo menos 99 mortes.

Trump afirma que a campanha visa combater o narcotráfico e acusa Maduro de liderar o Cartel de los Soles, mas analistas acreditam que o objetivo também pode ser precipitar uma mudança de regime.

A produção atual da Venezuela é cerca de 1 milhão de barris de petróleo por dia, cerca de 1% da produção mundial, muito abaixo dos mais de 3 milhões de 1998, antes do governo Chávez. Essa queda resulta de má gestão, corrupção, perda de pessoal e sanções.

Assim, o impacto no mercado global será limitado no curto prazo, mas as consequências internas poderão ser severas.

Com sanções iniciadas em 2018 por Trump, a crise econômica venezuelana se agravou, com retração de 15% do PIB naquele ano, segundo o FMI.

Christopher Sabatini, do Chatham House, acredita que o bloqueio pode ser ainda mais devastador se mantido, esperando que a pressão interna force uma transição rápida, caso contrário, a crise se ampliará devido à dependência das exportações sancionadas para comprar alimentos e remédios.

Relatórios indicam que cerca de 40 petroleiros sancionados operavam ao largo da Venezuela em novembro, e o serviço Tanker Trackers encontrou 37 embarcações sancionadas em águas venezuelanas em dezembro.

O economista Francisco Monaldi ressalta que o bloqueio forçará Maduro a oferecer mais descontos para vender petróleo informalmente, reduzindo a receita, desvalorizando o bolívar e elevando a inflação. O FMI estima inflação de 269,9% para 2025.

O bloqueio pode impactar tanto a oposição quanto o governo Trump, pois se não derrubar Maduro e afetar a população, a culpa poderá recair sobre eles.

O aumento da pobreza poderá gerar nova onda migratória, agravando a crise que já fez quase sete milhões de venezuelanos saírem do país.

Mark Weisbrot, do CEPR, alerta que o bloqueio pode prejudicar Trump politicamente, pois o aumento da migração para os EUA pode impactar seus eleitores e custos nas próximas eleições.

Créditos: G1

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