Brasil e EUA negociam terras-raras e data centers com setor privado investindo
O Brasil está avaliando uma negociação com os Estados Unidos que inclui oferecer terras-raras e data centers, com investimentos do setor privado. O presidente Lula afirmou que minerais críticos estão disponíveis para qualquer nação, mas o país não quer atuar somente como exportador.
A reaproximação estratégica tem como objetivo diminuir barreiras comerciais e ampliar a cooperação, especialmente em áreas como energia renovável e tecnologia.
Com a disposição do presidente Donald Trump para se reunir com Lula e discutir as tarifas impostas, o governo e o setor privado brasileiros elaboram uma lista de produtos para negociação, como automóveis, filmes, biocombustíveis, tecnologia da informação, carnes, minerais críticos e terras-raras.
Empresários veem o diálogo como um passo para rediscutir as relações comerciais, considerando que Trump aplicou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. O governo brasileiro busca ampliar as exceções tarifárias para itens como frutas, café, carnes, máquinas, calçados e pescados.
Embora o empresariado esteja cético quanto à redução de tarifas, reconhece que a conversa restabelece canais diplomáticos. O Brasil pode também propor investimentos nos EUA que gerem empregos e negócios, além de trazer minerais críticos, data centers e energia renovável para a negociação.
O presidente Lula preferiu não antecipar o conteúdo da negociação, mas demonstrou otimismo, afirmando que respeitará Trump como presidente e espera ser respeitado igualmente. Ele destacou que ambos são ‘‘homens de 80 anos’’ e que a conversa será civilizada.
Autoridades brasileiras consideram que a situação atual é mais favorável para negociar, dado que o impacto do tarifaço nas exportações foi menor do que o previsto. Lula não descartou um encontro presencial, ressaltando que soberania e democracia são temas inegociáveis, e que a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF não será discutida.
Lula ressaltou que ambos os líderes trarão suas perspectivas para o diálogo. Se os EUA consideram necessário taxar produtos estrangeiros para proteger seu mercado, isso é seu direito. O objetivo brasileiro é fortalecer o multilateralismo, debatendo as questões na Organização Mundial do Comércio.
Ele reforçou a importância de aproximação entre Brasil e EUA, ressaltando a condição dos dois países como maiores economias e potências continentais, o que torna desnecessários os conflitos.
Um documento do Escritório de Comércio dos EUA apontou que o Brasil impõe tarifas altas em diversos setores como automóveis, tecnologia, químicas, máquinas, carne suína, aço e têxteis, que poderiam ser contemplados em um acordo visando maior abertura.
O governo americano indicou interesse nos minerais críticos brasileiros — lítio, cobre, nióbio, cobalto e terras-raras. Lula afirmou que o tema está na mesa para negociação, mas o Brasil quer compensações como investimentos e transferência de tecnologia.
Segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração, Raul Jungmann, esses minerais são requisitados globalmente e essenciais para combater a crise climática.
O setor de data centers acredita em possível acordo, projetando receita de US$ 1,9 bilhão em 2027. A aprovação do regime especial de tributação (Redata) atendeu demandas do segmento, que conta com forte participação americana tanto nos investimentos quanto na oferta de equipamentos.
De acordo com Renan Lima Alves, presidente da Associação Brasileira de Data Center, a iniciativa beneficia clientes e fornecedores americanos no Brasil.
No segmento aeronáutico, a Embraer estará livre da tarifa adicional de 40%, reduzida para 10%, e planeja investir US$ 500 milhões em expansão da fábrica na Flórida, com possibilidade de abrir 2,5 mil vagas. Outro investimento de US$ 500 milhões pode ocorrer para a produção do avião multimissões KC-390, se aprovado pela Força Aérea americana.
Em missão recente aos EUA, empresários brasileiros destacaram minerais críticos, energia renovável e data centers como setores estratégicos para cooperação.
Entre exportadores de carne bovina, há expectativa de que as tarifas adicionais de 40% possam ser revistas, dado que a carne brasileira é utilizada em hambúrgueres, segmento que não compete diretamente com a produção americana marbled.
Empresas brasileiras como a JBS investem nos EUA e geram empregos, sendo que a JBS USA planeja investir US$ 830 milhões em fábricas de produtos processados neste ano.
O setor cafeeiro também considera positiva a abertura para diálogo, destacando a sensibilidade do café e da carne diante da inflação americana.
Este movimento representa uma oportunidade para reaproximação, redução de barreiras e ampliação da cooperação comercial entre Brasil e Estados Unidos.
Créditos: O Globo