Notícias
01:05

Chico, Caetano e Gil mobilizam protesto político contra PEC da Blindagem

Ao longo do século 20, a canção desempenhou papel essencial em momentos críticos da democracia brasileira, servindo como expressão da sensibilidade social e de resistência. Nos anos 1960, a MPB tornou-se um instrumento ideológico contra a ditadura, enquanto a tropicália inovou artisticamente e abriu caminhos para a esquerda.

Neste domingo (21), Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil participam de um protesto contra a PEC da Blindagem e a anistia dos envolvidos no ataque de 8 de janeiro de 2023, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O ato acontece na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, com um evento musical, e manifestações semelhantes ocorrerão em outras capitais.

A presença desses três artistas simboliza o peso intelectual e social da pauta, que embora não possa alterar diretamente decisões no centrão, deve confrontar parlamentares com a impopularidade da medida. A PEC dificulta a investigação de parlamentares, exigindo autorização legislativa, que seria votada em segredo.

Chico, embora discretamente engajado, retorna aos holofotes em evento político após ter se apresentado em 2018 no protesto contra a prisão de Lula (PT). A manifestação também denuncia a anistia a golpistas sendo discutida no Congresso.

A atuação desses artistas revela ainda a dificuldade da esquerda atual de mobilizar as massas, contrastando com a ocupação constante das ruas pelo bolsonarismo. A manifestação de esquerda tem maior repercussão nas redes, mas sua mobilização física é limitada, evidenciando a ausência de lideranças jovens e a dependência da simbologia artística.

Caetano, por meio da organização 342, convocou a população e artistas para o protesto que resgata o caráter político da música popular brasileira, cuja relevância social já estava consolidada desde os anos 1930, com compositores como Noel Rosa e Ary Barroso. Na década de 1960, este trio enfrentou a ditadura, inclusive na Passeata dos Cem Mil.

A canção sempre foi forma de intervenção política, como na célebre letra de Caetano “Eu organizo o movimento” em “Tropicália”. Após a ditadura, Chico criou com Francis Hime o hino “Vai Passar”, símbolo da redemocratização.

Para a esquerda contemporânea, o cenário político é desafiador, com artistas mais jovens não ocupando papel tão relevante e a canção perdendo influência social. Para a geração de 1960, no entanto, voltar às ruas para discutir anistia remete a um déjà-vu marcante.

Créditos: Folha de S.Paulo

Modo Noturno