Cidade de Gaza sofre fortes bombardeios após visita de Marco Rubio a Jerusalém
A Cidade de Gaza foi alvo de intensos bombardeios israelenses logo após a visita do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, a Jerusalém, onde ele reforçou o apoio americano à ofensiva de Israel.
Testemunhas descreveram explosões que destruíram residências e causaram mortes e ferimentos, com pessoas presas sob os escombros. O Exército de Israel não comentou sobre os ataques.
As Forças Armadas israelenses realizaram bombardeios pesados durante a madrugada de terça-feira (segunda à noite em Brasília), antes de iniciar a segunda fase da operação Carruagens de Gideão II, cujo objetivo é tomar o controle terrestre do principal centro urbano do enclave palestino.
Esta escalada militar aconteceu um dia após a visita de Rubio a Jerusalém, uma demonstração clara do apoio de Washington aos planos israelenses, apesar da crescente pressão internacional pela conclusão da guerra.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que foi lançada uma operação poderosa na Cidade de Gaza e classificou o momento como um ponto decisivo, durante seu depoimento em um tribunal em Tel Aviv no mesmo dia.
A operação para assumir o controle da Cidade de Gaza foi autorizada em agosto pelo governo de Israel, apesar de protestos iniciais de parte das lideranças militares. O Exército definiu seu avanço como uma operação terrestre em grande escala visando alcançar os objetivos da guerra na Faixa de Gaza e aprofundar os avanços conquistados.
Especialistas alertam que o aumento dos bombardeios e a entrada de tropas em uma área tão densamente povoada elevam o risco de agravar ainda mais a crise humanitária na região.
Dois oficiais militares informaram ao jornal New York Times que a invasão terrestre está em seus estágios iniciais, enquanto outro oficial ouvido pela AFP afirmou que as tropas estão avançando em direção ao centro do enclave.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, declarou via rede social X que Gaza está “em chamas” após os bombardeios noturnos e que Israel não recuará na missão.
Ele afirmou que as Forças de Defesa de Israel atacam com força a infraestrutura terrorista e que os soldados lutam para criar condições para libertar reféns e derrotar o Hamas, não cedendo até que a missão seja finalizada.
Imagens captadas por câmeras na estrada costeira de al-Rashid mostraram uma longa fila de palestinos fugindo do norte de Gaza e da Cidade de Gaza rumo ao sul. Segundo o Exército israelense, mais de 300 mil pessoas já haviam deixado o centro urbano até segunda-feira.
Os militares pediram que cerca de meio milhão de palestinos evacuassem a cidade, considerada uma zona de combate perigosa.
Testemunhas relataram cenas de caos durante os ataques noturnos. Mais de 20 mortos e dezenas de feridos foram encaminhados ao hospital al-Shifa, conforme o diretor Mohammad Abu Salmiya, confirmação também dada por um funcionário do Ministério da Saúde de Gaza, ligado ao Hamas.
Um jovem de 25 anos, Ahmed Ghazal, morador da área, descreveu o bombardeio intenso e uma explosão que sacudiu violentamente o bairro próximo à 1h (19h de segunda em Brasília). Ele relatou ter corrido até o local do ataque e visto três casas totalmente destruídas, com várias pessoas presas sob os escombros, cujos gritos ainda podiam ser ouvidos.
Um comandante israelense estimou que entre 2 mil e 3 mil combatentes do Hamas estão posicionados na Cidade de Gaza. Netanyahu prometeu eliminar o grupo e rejeitou propostas de paz, impondo como condições a desarmamento completo do Hamas e o fim de sua atuação política.
As negociações que ocorriam até a semana passada foram interrompidas após Israel bombardear a capital do Catar, Doha, onde líderes do Hamas discutiam uma proposta dos EUA. O Catar suspendeu a mediação denunciando violação de sua soberania, embora Israel argumente que os alvos eram terroristas.
Lideranças árabes e de países muçulmanos estiveram reunidas emergencialmente no Catar, recomendando a revisão de todos os vínculos econômicos e diplomáticos com Israel, o que pode afetar os Acordos de Abraão e as tentativas de expansão promovidas pelos EUA e Israel.
Nesta terça-feira, o secretário de Estado americano Marco Rubio viajou a Doha para diálogo direto com a liderança catari, buscando equilibrar o apoio a Israel e a manutenção das relações com o Catar.
Rubio declarou que a janela para um acordo está muito próxima do fim, ressaltando que o tempo disponível é medido em dias, não em meses.
(Informações: AFP e New York Times)
Créditos: O Globo