Política
16:06

Crise no PL: Michelle Bolsonaro e enteados discordam sobre apoio a Ciro Gomes

Dez dias após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na superintendência da Polícia Federal, o grupo formado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e seus enteados enfrenta dificuldades nas negociações políticas.

Com a detenção do ex-chefe do Executivo, seus filhos – o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) – e a esposa começam a mostrar sinais de divergência pela ausência do líder bolsonarista.

Condenado a 27 anos de prisão por envolvimento em um plano de golpe de Estado, Bolsonaro está preso desde 22 de novembro e é inelegível. Conforme apurado pela CNN Brasil, a saída do ex-presidente da corrida eleitoral deve levar à disputa entre aqueles que se consideram seus herdeiros políticos.

A crise teve início quando o diretório do PL no Ceará declarou apoio a uma possível candidatura de Ciro Gomes (PSDB).

Após deixar o PDT, Ciro se filiou ao PSDB em outubro, durante evento com líderes tucanos e representantes de partidos que se opõem ao governador Elmano de Freitas (PT).

Entre os presentes estava o deputado federal André Fernandes (PL-CE), presidente estadual do PL no Ceará.

Fernandes afirmou que Bolsonaro havia autorizado o partido a apoiar Ciro. “O próprio presidente Bolsonaro pediu para a gente ligar para o Ciro Gomes no viva-voz. Ficou acertado que apoiaríamos Ciro Gomes […] O acordo era que é ruim para Jair Bolsonaro se aproximar de Ciro Gomes, então coloca o André que aguenta quaisquer críticas”, declarou o deputado.

Ele acrescentou que o objetivo do PL é derrotar o PT no Ceará e que o partido precisa de candidatos fortes em todas as unidades da federação para apoiar Bolsonaro ou seu sucessor na disputa presidencial.

Apesar de recente, a proximidade de Ciro com o PL não é nova. No ano passado, o ex-governador participou de eventos com políticos do partido, embora tenha feito críticas ao ex-presidente durante a campanha de 2022.

O apoio a Ciro, porém, não agradou a todos os aliados de Bolsonaro. No domingo (30), Michelle Bolsonaro criticou o apoio do partido a Ciro durante o lançamento da pré-candidatura de Eduardo Girão (Novo-CE) ao governo do Ceará.

Ela considerou precipitada a decisão do PL e criticou André Fernandes, responsável pela articulação. “Adoro o André, tenho orgulho dele, do Nikolas, do Carmelo e da esposa dele que foi eleita, mas fazer aliança com um homem que é contra o maior líder da direita? Isso não dá!”, declarou Michelle, que preside o PL Mulher.

A ex-primeira-dama se referiu aos ataques recorrentes de Ciro a Jair Bolsonaro, como quando o chamou de “ladrão da rachadinha” em referência às investigações sobre Carlos e Flávio Bolsonaro.

Ciro também criticou a gestão de Bolsonaro na pandemia, que deixou mais de 700 mil mortos no Brasil.

O conflito cresceu quando Michelle e os filhos de Bolsonaro passaram a se enfrentar publicamente. O senador Flávio Bolsonaro foi o primeiro a reagir à madrasta, afirmando que ela “atropelou” o partido ao se dirigir de forma autoritária a André Fernandes.

Flávio disse que o gesto foi constrangedor e depois recebeu apoio dos irmãos nas redes sociais.

Eduardo, que está nos Estados Unidos, chamou o episódio de injusto e desrespeitoso, lembrando que o apoio a Ciro foi uma decisão do pai.

Sem citar Michelle, Carlos pediu respeito à liderança do pai e afirmou que não se deixaria levar por “outras forças”.

Na madrugada de terça (2), Michelle divulgou nota pedindo desculpas aos enteados, afirmando que não teve intenção de contrariá-los, mas reiterou críticas ao apoio a Ciro Gomes. “Como ficar feliz com o apoio a um homem que xinga meu marido o tempo todo?”, questionou.

Ela disse respeitar a opinião dos enteados, mas manteve seu posicionamento.

Após a nota, Flávio disse à CNN Brasil que conversou longamente com Michelle e que se entenderam, ressaltando que não há decisão sobre palanques no Ceará ou em outros estados.

Flávio afirmou que vai analisar os cenários com a participação de Michelle, mas que a decisão final cabe ao pai, que está preso.

Mesmo com a reconciliação entre Flávio e Michelle, o PL marcou uma reunião de emergência na terça (2) para tentar amenizar os ânimos.

A declaração de Michelle também causou desconforto na direção nacional do partido, que aprovou o apoio a Ciro.

Segundo apurou a CNN Brasil, dirigentes do PL acreditam que Michelle comprometeu suas chances de integrar a chapa presidencial de 2026.

Defendem que ela seja “enquadrada” e que se mantenha afastada de decisões eleitorais, enquanto Flávio deve ser o principal interlocutor do pai.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pretende orientar Michelle de que manifestações sobre eleições e decisões do partido devem passar por ele e por Flávio.

Créditos: CNN Brasil

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