Daniel Vorcaro: trajetória e polêmicas do empresário na Faria Lima
Daniel Bueno Vorcaro enfrentou rejeição entre os comerciantes da Faria Lima, principal centro financeiro de São Paulo e do país. Reconhecido por sua ostentação e promessas ousadas aos clientes, ele se apresentou como um “outsider” no mercado financeiro. Seu projeto de expansão foi visto como um sucesso inicial, com rápido crescimento em pouco tempo. Além do Banco Master e das controvérsias envolvendo o cancelamento de um acordo com o Banco de Brasília (BRB), Vorcaro teve contato com o mundo dos negócios desde cedo.
Natural de Minas Gerais, com 42 anos, o empresário veio de uma família de sucesso na construção civil em Belo Horizonte. Com experiência precoce na área da educação e apoio financeiro do pai, ingressou em 2016 no mercado financeiro ao adquirir o Banco Máxima, que enfrentava sérios problemas após uma operação da Polícia Federal que revelou desvios em previdências municipais.
Após assumir, rebatizou a instituição como Banco Master e iniciou seu plano mais ambicioso. Diferentemente do modelo tradicional, que capta recursos principalmente via correntistas ou empréstimos, o banco focou em oferecer Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com juros muito elevados, chegando a 140% do CDI, valor significativamente maior que o usual para bancos semelhantes.
Vorcaro justificava os elevados rendimentos pela proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura depósitos até R$ 250 mil em caso de insolvência bancária. Com mudanças regulatórias, o banco passou a emitir letras financeiras para fundos de pensão estaduais e municipais, que não têm essa garantia. Assim, entidades como a RioPrevidência aplicaram R$ 1 bilhão nesses títulos.
Sua estratégia também envolvia marketing, com instalação do banco em um dos prédios de maior prestígio na Faria Lima, presença em eventos importantes como a ExpertXP, promovido pela XP Investimentos, e campanhas publicitárias com a atriz Isis Valverde. Vorcaro mantém uma participação ativa nas redes sociais, mostrando uma vida luxuosa ao lado da namorada Martha Graeff, influenciadora digital.
Vorcaro também é investidor no futebol, como acionista do Atlético Mineiro. Aplicou aproximadamente R$ 300 milhões para adquirir 26,9% da Galo Holding S.A., responsável pela SAF do clube. Conforme informações à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ao Atlético, investiu R$ 100 milhões em 2023 e R$ 200 milhões em 2024. A família Menin detém 41,8% da Galo Holdings, e a Associação do clube ficou com 25%.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo indicou que os recursos de Vorcaro para investir no Atlético podem ter origem em um fundo suspeito de lavagem de dinheiro ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O clube afirma desconhecer essa procedência e informa que o “Galo Forte Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia”, veículo usado por Vorcaro para os aportes, é regularizado na CVM, sendo administrado pela “Trustee Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda”.
Em 2025, Vorcaro ganhou destaque quando o Banco de Brasília (BRB) anunciou a compra de 58% do Banco Master, incluindo as ações ordinárias e preferenciais. A proposta suscitou dúvidas no mercado sobre as intenções de um banco público ao investir numa instituição marcada por questionamentos e irregularidades. O BRB informou que a operação visava expandir suas atividades em crédito imobiliário, agronegócio, setor público, pagamentos, seguros e investimentos.
A operação tinha aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas o Banco Central barrou o acordo em agosto, citando complexidade da parceria e as altas taxas de juros praticadas, entre outros fatores.
Recentemente, a Fictor Holding Financeira anunciou a compra do Banco Master, adquirindo a totalidade das ações de Vorcaro e prometendo investir R$ 3 bilhões para fortalecer o banco. Contudo, a negociação foi suspensa após a prisão de Vorcaro pela Polícia Federal no Aeroporto de Guarulhos, onde tentou fugir, e a consequente liquidação extrajudicial do Master.
Créditos: Correio Braziliense