Saúde
04:04

Desafios na detecção de intoxicação por metanol em São Paulo

A crise de contaminação por metanol em bebidas adulteradas enfrenta obstáculos logísticos e clínicos para a confirmação dos casos. Os testes de detecção são complexos e demoram, dificultando diagnósticos rápidos, enquanto os sintomas podem ser confundidos com uma ressaca comum. Em São Paulo, a maior parte das análises ocorre em Ribeirão Preto, exigindo transporte das amostras e causando atrasos. Autoridades de saúde buscam parcerias para aprimorar a testagem e tratamento, ressaltando a importância do atendimento imediato diante dos sintomas graves.

Nos últimos dias, as notificações de intoxicação por metanol têm sido frequentes na mídia, com números oscilando entre casos confirmados, suspeitos e descartados, o que evidencia a crise e gera dúvidas sobre o processo de detecção da substância, presente em bebidas adulteradas. O caso do rapper Hungria ilustra a complexidade: internado sob suspeita de intoxicação, o Ministério da Saúde inicialmente negou a relação, mas posteriormente exames confirmaram a presença do metanol.

Especialistas explicam que o diagnóstico enfrenta dois grandes desafios. Primeiro, os resultados dos testes podem demorar dias. Segundo, os sintomas iniciais podem ser confundidos com os de uma ressaca.

Em São Paulo, os testes da rede pública são concentrados no Laboratório de Análises Toxicológicas Forenses (Latof) da USP em Ribeirão Preto. As unidades do SUS enviam amostras de sangue e urina congeladas para lá, num processo de logística que demora cerca de 24 horas, prolongando o tempo para obtenção dos resultados.

Segundo o professor Daniel Junqueira Dorta, do Departamento de Química da USP em Ribeirão Preto, para confirmar a intoxicação é feita análise do sangue buscando a presença de metanol ou ácido fórmico, que causa os efeitos mais nocivos. O teste consiste em aquecer a amostra e coletar os compostos voláteis para análise por cromatografia gasosa, o que pode ser feito também pela urina.

Instituições como CIATox da Unicamp e Fiocruz, além de laboratórios privados, estão aptas a realizar as análises. O Ministério da Saúde considera caso suspeito quem consumiu bebida destilada e mantém ou piora sintomas entre seis e 72 horas após ingestão, como náuseas, vômitos, dores intensas, confusão, vertigem, perda ou borramento da visão e pupilas dilatadas.

A Secretaria de Saúde de São Paulo orienta que casos com cegueira, choque, pancreatite, insuficiência renal ou lentidão nos movimentos sejam classificados como graves e notificados ao Sinan. A recomendação é procurar atendimento rápido para aumentar as chances de cura.

A presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Patrícia Melo, destaca que níveis altos no sangue indicam gravidade, mas devido à demora nos resultados, o tratamento deve começar imediatamente. Pacientes sintomáticos devem ser encaminhados para hospitais com UTI.

Sinais que ajudam a diferenciar intoxicação de ressaca incluem sintomas desproporcionais à quantidade ingerida, piora com o tempo e múltiplas pessoas com sintomas similares após beber a mesma bebida. Medir a acidez do sangue é outra indicação possível.

O Ministério da Saúde firmou parceria com Unicamp e Fiocruz para ampliar as testagens. O governo de São Paulo pretende melhorar a logística e ampliar a capacidade de testes, buscando acordos com mais laboratórios.

Nem todos os suspeitos precisam de exame laboratorial, pois a contaminação pode ser descartada clinicamente. A diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo, Tatiana Lang D’Agostini, destaca que muitas pessoas têm sintomas causados apenas pelo álcool, sem presença de metanol.

No caso de intoxicação confirmada, avalia-se a gravidade para decidir encaminhamento a UTI e início do tratamento com etanol, mesmo antes do resultado do exame, que pode demorar. O processo de enviar as amostras para Ribeirão Preto leva cerca de 24 horas, mas está se tornando mais ágil.

No Paraná, análises são realizadas pela Polícia Técnico-Científica, que também verifica metanol em bebidas apreendidas. O secretário de Saúde local ressalta que exames hospitalares podem ajudar no diagnóstico e que o tratamento é iniciado com base nos sinais clínicos, mesmo sem confirmação laboratorial imediata.

Ele também alerta sobre o uso do antídoto etanol, que em casos graves pode exigir grande quantidade, e destaca a preocupação para garantir estoque suficiente diante do aumento dos casos.

Créditos: O Globo

Modo Noturno