Direita e esquerda ficam igual no poder na América do Sul após eleição no Chile
A vitória da direita na eleição presidencial do Chile, com José Antonio Kast, equilibrou o número de governos de direita e esquerda na América do Sul.
Com Kast eleito, a direita passa a governar seis dos 12 países da região, representando metade dos governos. Esse novo equilíbrio ocorre enquanto o Uruguai, com a vitória de Yamandú Orsi em março de 2025, continua sob controle da esquerda.
Historicamente, a política sul-americana tem alternado entre períodos dominados pela esquerda e pela direita. No início do século 21, a chamada “onda rosa” levou governos progressistas ao poder, mas nos últimos anos a direita recuperou espaço.
A eleição de Rodrigo Paz na Bolívia em outubro também contribuiu para esse equilíbrio, tirando a esquerda do poder após quase duas décadas.
Especialistas entrevistados pelo g1 explicam esse cenário de polarização e instabilidade. Maurício Santoro, doutor em Ciência Política, observa que desde 2010 houve uma guinada conservadora devido ao fim do ciclo econômico favorável das commodities.
Regiane Nitsch Bressan, professora de Relações Internacionais, destaca que a alternância ideológica é natural nas democracias, mas se torna crítica em contextos de fragilidade institucional.
Nos anos 90, predominavam governos conservadores com agendas neoliberais, e partidos progressistas tinham dificuldades eleitorais. A partir dos anos 2000, a “onda rosa” permitiu a ascensão da esquerda.
Após a crise econômica de 2008, com queda no valor das commodities, os governos progressistas enfrentaram dificuldades, causando o retorno do conservadorismo, um movimento também observado globalmente.
Santoro relaciona o avanço da direita regional ao contexto internacional, mencionando o Brexit como exemplo de perda de espaço da esquerda.
Apesar do progresso democrático, a América do Sul ainda enfrenta desafios, como instabilidade política, desigualdades, pobreza e descrença nas instituições, o que facilita a ascensão de governos populistas ou neopopulistas.
Além disso, o confronto entre Executivo e Legislativo e o uso político da Justiça enfraquecem o Estado de Direito.
Santoro afirma que o processo de redemocratização é recente e que a polarização extrema dificulta o diálogo político. O Uruguai é exceção, com alternância entre esquerda e direita sem extremos.
Ele também relaciona a instabilidade política sul-americana a uma crise global que afeta outras regiões como Europa e Estados Unidos.
Créditos: g1