Dólar cai com PIB brasileiro em leve alta e expectativas sobre juros nos EUA
Na quinta-feira (4), o dólar iniciou o dia em leve queda, enquanto investidores avaliavam o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que mostrou crescimento de 0,1% no terceiro trimestre. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicaram variações positivas de 0,4% na agropecuária e 0,8% na indústria, enquanto o setor de serviços, o mais representativo na economia, ficou praticamente estável, com 0,1%.
O mercado financeiro tinha expectativa média de alta de 0,2%, conforme projeções coletadas pela agência Bloomberg, que previam variações entre -0,5% e 0,3%. Na quarta-feira (3), o dólar caiu 0,29%, cotado a R$ 5,314, influenciado pelo cenário internacional. A Bolsa de Valores atingiu novo recorde de fechamento pelo segundo dia seguido, avançando 0,41% e alcançando 161.755 pontos, tendo registrado durante o pregão uma máxima de 161.963 pontos.
Na véspera, a Bolsa também atingiu recordes intradiário e de fechamento, ultrapassando pela primeira vez a marca de 161 mil pontos e negociando acima dos 160 mil pontos. Os acontecimentos refletem o ambiente econômico dos Estados Unidos, onde investidores acompanham indicadores do setor privado divulgados pela ADP, em meio a crescentes expectativas de corte nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed) na próxima semana.
Um relatório recente mostrou que o setor privado norte-americano fechou 32 mil vagas de trabalho em novembro, quebrando a previsão de abertura de 10 mil postos feita por economistas. Segundo João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, esse número surpreendeu negativamente e indica um enfraquecimento maior do que o esperado na economia dos EUA, o que pode influenciar a decisão do Fed na reunião marcada para 10 de dezembro.
Apesar do término da paralisação do governo federal dos EUA no início do mês, dados oficiais importantes, como o relatório “payroll”, estão atrasados e só serão atualizados em 16 de dezembro. Com isso, o Fed deve focar em dados regionais e do setor privado para avaliar a evolução da economia americana, conforme o analista Leonel Mattos, da StoneX.
A ferramenta FedWatch, do CME Group, aponta que há 88,8% de chance de o Fed reduzir a taxa de juros para a faixa de 3,50% a 3,75% em dezembro, atualmente entre 3,75% e 4,00%. Reduções nos juros nos EUA geralmente beneficiam os mercados globais, já que os títulos do Tesouro norte-americano são considerados investimentos quase sem risco. Quando os juros caem, operadores tendem a buscar investimentos diversificados, favorecendo ativos alternativos.
No Brasil, uma eventual manutenção da taxa de juros junto a cortes nos EUA fortalece a estratégia do “carry trade”, que consiste em tomar dinheiro emprestado a juros baixos em um país para investir em ativos com retornos maiores em outro, como a renda fixa brasileira. Tal cenário contribui para a entrada de dólares no Brasil, valorizando o real.
Além disso, investidores domésticos repercutem declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as tarifas americanas aplicadas contra o Brasil. Lula manifestou otimismo quanto a potenciais revogações dessas tarifas após conversas com Donald Trump. Ele afirmou que, após o impacto inicial das taxações, o país pode aguardar notícias positivas sobre a retirada de sobretaxas ainda vigentes sobre produtos brasileiros.
Na conversa, Trump elogiou o diálogo com Lula, mencionando reuniões e discussões sobre negócios e sanções. O governo dos EUA impôs em julho uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros, adicionada a uma tarifa geral de 10%, mas previu várias exceções para itens como suco de laranja e produtos de aviação, correspondendo a 43% das exportações brasileiras para aquele mercado. Em novembro, foram suspensas algumas dessas tarifas sobre produtos importantes como carne e café.
Essas mudanças e conversas diplomáticas são observadas pelo mercado enquanto a economia brasileira enfrenta um momento de juros elevados e diminuição do estímulo da safra. O cenário internacional e as decisões dos bancos centrais permanecem como elementos-chave para o desempenho futuro do câmbio e da Bolsa.
Créditos: Folha de S.Paulo