Economia
21:10

Enel acumula R$ 404 milhões em multas e deixa 600 mil imóveis sem luz em SP

A distribuidora Enel São Paulo enfrenta críticas após mais um evento climático extremo deixar 2,2 milhões de imóveis sem energia na região metropolitana da capital paulista. O ciclone extratropical que atingiu São Paulo em dezembro provocou ventos de quase 100 km/h durante cerca de 12 horas, derrubando árvores sobre a rede elétrica e causando apagões massivos.

Mesmo passadas 48 horas do vendaval, cerca de 600 mil imóveis continuam sem luz na capital, refletindo a demora no restabelecimento da energia e o impacto econômico estimado em R$ 1,5 bilhão em perdas para o comércio, segundo a Federação do Comércio de São Paulo.

Desde que assumiu a concessão da região em 2018, após adquirir 73,38% das ações da AES Eletropaulo, a Enel prometeu melhorias, mas seu desempenho tem sido marcado por queda nos investimentos, redução do quadro de funcionários e descumprimento sistemático das metas regulatórias da Aneel. A empresa gastou 22,3% menos do que o previsto em pessoal e materiais nos últimos 12 meses, e seu tempo médio para atendimento a emergências subiu de 9,13 horas em 2019 para 12,21 horas em 2024.

A distribuidora acumula multas que ultrapassam R$ 404 milhões, mas tem pago menos de 10%, devido a recursos na Justiça. A renovação antecipada da concessão foi suspensa judicialmente, e o Tribunal de Contas da União recomendou que a Aneel avalie uma possível intervenção administrativa.

Especialistas apontam que São Paulo vem sofrendo com eventos climáticos extremos inéditos, como tempestades intensas e ciclones, para os quais a infraestrutura da rede elétrica não está preparada. Segundo o professor Nivalde de Castro, da UFRJ, a Enel dificilmente poderia evitar os apagões causados por esses fenômenos, pois os investimentos em distribuição demandam planejamento e obras estruturais a longo prazo.

Além disso, o histórico da Enel até 2023 mostra práticas como terceirização, corte de custos e venda de ativos, agravando o cenário. A regulação atual não contempla plenamente os desafios trazidos por eventos climáticos recentes, dificultando a adaptação rápida da rede.

O professor destaca que as soluções passam por investimentos prudentes autorizados pela Aneel e avanços graduais que priorizem áreas de maior impacto socioeconômico, sem recorrer a intervenções políticas abruptas. A manutenção da rede e a poda de árvores que ameaçam a infraestrutura elétrica também são apontadas como fatores essenciais para minimizar o risco de futuros apagões.

Até o fechamento da reportagem, a Enel não havia se manifestado sobre o novo apagão e as críticas recebidas.

Créditos: NeoFeed

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