Especialistas avaliam reaproximação pragmática entre Lula e Trump nas relações bilaterais
O encontro entre Lula e Donald Trump, ainda que não seja prioridade máxima para os Estados Unidos, marca uma reaproximação pragmática nas relações entre os dois países. Para especialistas, mesmo sem estar no topo das prioridades americanas, o diálogo pode impulsionar avanços em temas como tarifas e regulação das bigtechs.
O Itamaraty destacou-se ao incluir assuntos relevantes na pauta, enquanto Trump delegou a continuidade técnica ao secretário de Estado Marco Rubio. O Brasil, que enfrenta déficit comercial com os EUA, tem poucas concessões para oferecer, mas o investimento brasileiro no território americano pode ser um ponto explorado.
Embora o agenda com Trump fosse prioridade para o governo brasileiro durante sua viagem à Ásia, a mesma prioridade não existia do lado americano, onde o principal desafio de Trump era a relação com a China, que parece estar sendo desatado. Isso não desvaloriza a posição brasileira, que conseguiu incluir temas importantes em uma agenda concorrida, como a imposição de tarifas e sanções.
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da BMJ Consultores, observa que o silêncio da comitiva americana sobre o encontro expressa a disputa da agenda com múltiplos países. Ele considera a reunião positiva na medida em que a negociação ainda está em estágio inicial.
Benny Spiewak, especialista em direito internacional e sócio do SPLAW advogados, reforça que foi dado um passo importante, mas que o processo será longo e complexo. Para ele, Trump sinaliza que os próximos pedidos americanos devem envolver revisão da pauta sobre bigtechs, redução da tarifa para etanol americano e exigências relacionadas às terras-raras.
Carlos Frederico de Souza Coelho, professor de Relações Internacionais, destaca que divergências são normais, mas o que vale é o retorno ao pragmatismo nas relações Brasil-EUA, que estavam no pior momento em mais de 200 anos. O reset é considerado um avanço significativo.
Comparado a agosto, quando Trump anunciou sobretaxa via redes sociais sem protocolo, a atual reunião representa uma virada importante. Leonardo Paz, professor do Ibmec, avalia que o discurso otimista do governo brasileiro também cumpre um papel político interno, visando ao Centrão.
Paz ressalta que o Brasil possui pouco a oferecer na negociação, devido ao déficit comercial e à inviabilidade de atender às demandas iniciais americanas. Ele acrescenta que o investimento de empresas brasileiras em solo americano, como a JBS, pode ser um ponto favorável nas futuras negociações, principalmente considerando a valorização que Trump faz de produção local.
Assim, a reunião sinaliza uma possível reconstrução nas relações entre Brasil e Estados Unidos, com a abertura para negociações em temas sensíveis apesar das diferenças e desafios.
Créditos: O Globo