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09:06

Estados Unidos ampliam ataques a narcolanchas no Pacífico apesar de controvérsias

O secretário de Estado americano e assessor de segurança nacional, Marco Rubio, declarou em 22 de outubro que, para evitar as explosões de narcolanchas, as pessoas deveriam cessar o envio de drogas aos Estados Unidos. As operações militares americanas contra embarcações supostamente carregadas de narcóticos foram ampliadas para o Pacífico a partir de 2 de setembro, tendo ocorrido no mar do Caribe, exceto nos dias 21, 22 e 27 de outubro, e resultando em 57 mortos até o momento.

No primeiro ataque registrado no Pacífico, em 21 de outubro, quatro embarcações foram atingidas, matando 14 pessoas, conforme informou o secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth. Segundo ele, uma equipe de resgate mexicana salvou um sobrevivente.

O governo Trump e seus representantes defendem essas ações como necessárias no combate aos cartéis, classificados por eles como “organizações terroristas” envolvidas em um “conflito armado”. Contudo, os ataques ocorreram sem aprovação do Congresso americano, provocando condenações na região e questionamentos sobre sua legalidade por especialistas em direitos humanos da ONU, que chegaram a chamar os ataques de “execuções extrajudiciais”.

Apesar das críticas, o governo dos EUA mantém a estratégia e assegura que as operações continuarão diariamente, considerando os alvos como “narcoterroristas” que promovem morte e destruição nas cidades americanas, segundo Hegseth, que não apresentou evidências que sustentem essas alegações.

Analistas observam que a droga mais letal nos Estados Unidos, o fentanil, um opioide sintético potente, é produzido no México e trafegado por fronteira terrestre, levantando dúvidas sobre o real objetivo dos ataques em alto-mar. Além disso, as apreensões de cocaína no Caribe, principal local das operações militares contra embarcações rápidas, representam uma parte pequena do total apreendido.

Alguns apontam que a intenção americana seria pressionar por uma mudança de governo na Venezuela. Desde as eleições presidenciais controversas de julho de 2024, o governo dos EUA, que não reconhece Nicolás Maduro como legítimo líder, o acusa de integrar o chamado Cartel de los Soles, composto por altos oficiais venezuelanos envolvidos com narcotráfico, o que Maduro nega, afirmando que Washington busca derrubá-lo.

Quanto à origem e rotas das drogas que chegam aos Estados Unidos, especialistas explicam que elas dependem do tipo de narcótico e variam desde fentanil, metanfetaminas, maconha, heroína até cocaína, originadas em diferentes países e vias.

A maior parte dessas drogas entra no país pela fronteira com o México. A cocaína, produzida principalmente nos países andinos Colômbia, Peru e Bolívia, é processada nesses locais e então enviada por várias rotas, frequentemente primeiro atravessando países limítrofes como Equador ou Venezuela.

Dessas áreas, a droga pode ser transportada em embarcações para a América Central ou México, e de lá segue por via terrestre até os EUA. Dados de 2019 da DEA indicam que menos de 1% da cocaína destinada aos EUA é contrabandeada diretamente, sendo a maioria transportada pelo Pacífico, que reuniu cerca de 74% dos embarques daquele ano, enquanto apenas 16% passaram pelo Caribe ocidental, onde concentraram-se os ataques militares americanos.

Consultas recentes à DEA e ao Comando Sul americano não tiveram resposta devido a limitações orçamentárias e operacionais, mas especialistas concordam que esses percentuais ainda se mantêm.

Organizações como o Centro Internacional de Pesquisa e Análises contra o Narcotráfico Marítimo (CIMCON), com sede em Cartagena, e analistas do International Crisis Group, indicam o Pacífico como rota dominante da cocaína para os EUA, apoiando-se no aumento das apreensões, especialmente no Equador.

Embora o Caribe não seja mais a principal rota como era na década de 1980, sua importância persiste, incluindo países insulares menores que participam das rotas para a Europa e os EUA. O aumento da pressão americana no México e a produção crescente nas Américas contribuem para a revitalização dessa região como rota de tráfico.

A produção mundial de cocaína atingiu recorde em 2023, com mais de 3.708 toneladas, crescimento de 34% em relação ao ano anterior, conforme o Relatório Mundial de Drogas 2025 do UNODC. O consumo também aumentou, com 25 milhões de usuários estimados em 2023.

Além da cocaína transportada por rotas marítimas, há o contrabando aéreo para México e América Central, com a Venezuela servindo de ponto de partida para voos ilegais.

O fentanil, associado a uma crise de overdoses nos EUA, não segue as rotas da cocaína. Embora as mortes por overdose tenham diminuído recentemente, o fentanil é responsável pela maioria delas. Essa droga ilícita é produzida principalmente no México a partir de precursores asiáticos, controlada por cartéis mexicanos.

Em ataques recentes, o presidente Trump afirmou que um submarino carregado principalmente de fentanil foi interceptado no Caribe, evitando milhares de mortes por overdose, mas não apresentou provas, o que gera dúvidas entre especialistas.

Pesquisadores sugerem que o verdadeiro objetivo dos ataques navais pode ser a tentativa de mudança de regime na Venezuela, com operações secretas autorizadas pela CIA, enquanto os confrontos políticos e acusações mútuas entre os governos dos EUA e da Colômbia se intensificam, incluindo sanções contra o presidente colombiano Gustavo Petro.

Esse cenário indica que as tensões envolvendo narcotráfico, segurança e política regional devem continuar acompanhadas de perto nas próximas etapas.

Créditos: BBC

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