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EUA apreendem petroleiro venezuelano acusando ligação com terrorismo

Um helicóptero dos Estados Unidos voa em baixa altitude sobre um mar enevoado enquanto se aproxima de um grande navio. Soldados camuflados, armados, descem por cordas até o convés da embarcação.

O vídeo divulgado por autoridades americanas mostra a mais recente ação na campanha de pressão dos EUA contra o governo de Nicolás Maduro: a apreensão de um petroleiro.

Os Estados Unidos afirmam que este navio é usado para transportar petróleo sancionado da Venezuela e do Irã, integrando uma “rede ilícita de transporte que apoia organizações terroristas estrangeiras”.

O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, classificou a apreensão como “pirataria internacional” e afirmou que o presidente Donald Trump deseja os recursos petrolíferos venezuelanos.

Trump declarou na Casa Branca que “acabamos de apreender um petroleiro na costa da Venezuela, um dos maiores já apreendidos”. A procuradora-geral Pam Bondi publicou imagens da operação em redes sociais e afirmou que a ação contou com a Guarda Costeira dos EUA, FBI, Departamento de Segurança Interna e o Pentágono.

Embora o local exato da apreensão não seja claro, um alto oficial militar disse à CBS News que o navio havia acabado de sair de um porto venezuelano.

O vídeo de 45 segundos mostra uma equipe americana armada caminhando pelo convés do navio, sem membros da tripulação visíveis.

Dois helicópteros, dez fuzileiros navais, dez agentes da Guarda Costeira e forças especiais participaram da operação, informou uma fonte à CBS.

O grupo de elite envolvido é o Maritime Security and Response Team da Guarda Costeira, especializado em contraterrorismo e abordagens de alto risco, criado após os atentados de 11 de setembro.

A Guarda Costeira liderou a ação com apoio da Marinha.

Victor Hansen, ex-advogado militar, afirmou que o governo Trump não apresentou justificativa legal clara para a apreensão, que parece fundamentada em sanções contra a Venezuela e o Irã, não em ação militar direta.

Normalmente, operações desse tipo contam com aconselhamento jurídico, mas a decisão final cabe aos comandantes.

Diferente de missões anteriores no Golfo Pérsico ou Mar Arábico, essa apreensão incluiu a retenção do navio com sua carga.

A empresa Vanguard Tech identificou o navio como Skipper e indicou que ele vinha falsificando sua localização há muito tempo.

Skipper teria participado da frota sombria, sancionada pelos EUA por transportar petróleo venezuelano contrário às sanções vigentes.

Estima-se que o navio saiu do porto petrolífero de José em 4 ou 5 de dezembro com cerca de 1,8 milhão de barris de petróleo bruto pesado, sendo que aproximadamente 200 mil barris já teriam sido transferidos para outro navio antes da apreensão.

O Departamento do Tesouro dos EUA sancionou o Skipper em 2022 por envolvimento no contrabando de petróleo que beneficiaria o Hezbollah e a Força Quds da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã.

No MarineTraffic, o petroleiro aparece navegando sob a bandeira da Guiana, mas a Administração Marítima da Guiana afirmou que essa seria uma falsa hasteamento já que o navio não está registrado no país.

Dados indicam que o Skipper esteve próximo ao Irã em setembro e depois perto da Guiana em outubro, com movimentos limitados desde então, provavelmente devido à falsificação de localização.

Questionado sobre o destino do petróleo, Trump afirmou que os EUA provavelmente ficarão com a carga.

No mercado internacional, o petróleo do tipo carregado pelo navio custa cerca de US$ 61 por barril, o que deixaria o valor da carga em mais de US$ 95 milhões, descontando os barris transferidos.

Pam Bondi comentou que o navio estava sancionado há anos por participar de uma rede ilegal de transporte de petróleo que apoia grupos terroristas.

Maduro acusa os EUA de usar presença militar no Caribe e ações anti-drogas para tentar derrubá-lo e roubar o petróleo venezuelano, o que Washington nega.

A Venezuela tem as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, mas enfrenta desafios de extração por ser um petróleo pesado e pela deterioração da infraestrutura agravada pelas sanções americanas.

O governo Trump foca no combate a drogas, especialmente fentanil e cocaína, e designou grupos criminosos venezuelanos como organizações terroristas estrangeiras, alegando, sem provas, que Maduro lidera uma delas.

Além disso, o governo americano mobilizou cerca de 15 mil soldados e diversos navios de guerra para a região do Caribe, incluindo o USS Gerald Ford, maior porta-aviões do mundo, de onde decolaram os helicópteros usados na operação.

Mick Mulroy, ex-fuzileiro e ex-subsecretário do Pentágono, afirmou que essa apreensão aumentará a pressão sobre o governo da Venezuela.

Mulroy ressaltou a importância estratégica da Venezuela e que apreender navios que transportam petróleo ou insumos petroquímicos envia uma mensagem poderosa.

Desde setembro, forças americanas realizaram mais de 20 ataques contra embarcações suspeitas de tráfico de drogas, resultando na morte de mais de 80 pessoas.

O governo Trump considera estar em conflito armado não internacional com traficantes, a quem chama de “narcoterroristas”, mas especialistas afirmam que tais ataques são ilegais, já que essa designação não os torna alvos militares legítimos.

Créditos: BBC

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