Famílias aguardam liberação dos corpos após megaoperação no Rio
Familiares dos mortos na megaoperação realizada nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, estão desde a manhã no Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, localizado no Centro do Rio. Uma força-tarefa está empenhada em identificar os corpos dos envolvidos mortos pela polícia nessa ação, considerada a mais letal na história do Brasil.
De acordo com o IML, aproximadamente 80 dos 121 corpos já foram identificados. O instituto está dedicado exclusivamente ao atendimento desses casos.
Fabiana Alves Martins, que chegou do Espírito Santo na noite da última quarta-feira (29), tenta reconhecer o corpo de seu filho, Fabian Alves Martins, de 22 anos. Com a roupa para o funeral nas mãos, ela afirmou que deseja apenas realizar um velório digno.
“Ele está morto há trinta e oito horas, já está em decomposição. Não estamos tendo o direito de enterrar nosso filho. Tenho crianças pequenas, irmãos dele, que precisam se despedir. Eu quero apenas enterrá-lo, só isso. Estamos aguardando e eu preciso levá-lo, pois moramos longe. Meu filho era muito querido”, relatou Fabiana.
Marinei do Rosário, que veio do Pará, tenta realizar os procedimentos para a liberação e transporte do corpo de seu sobrinho. Ela explicou que, embora não seja a mãe, o jovem foi criado por sua mãe, que não pôde vir ao Rio devido à idade avançada.
“Ele tinha 18 anos, era um garoto cheio de sonhos, mas infelizmente escolheu outro caminho. Eu só quero levá-lo para casa e dar um enterro digno, para que sua avó saiba que ele foi muito amado”, comentou Marinei.
Até o momento, três corpos já foram levados para velórios nos cemitérios de Irajá e Inhaúma, ambos na Zona Norte da cidade. Outro corpo será transportado para Belém do Pará. A Defensoria Pública está presente no IML para oferecer suporte às famílias.
Devido ao elevado número de corpos, peritos de outras localidades ajudam no trabalho de identificação. Para agilizar o processo, o IML solicitou acesso a bancos de dados externos para cruzar informações e confirmar as identidades.
Os dois policiais militares que morreram no confronto com traficantes serão sepultados nesta quinta-feira (30). Já os dois policiais civis falecidos foram enterrados na quarta (29).
Em coletiva na noite de quarta-feira, o governador Cláudio Castro e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, anunciaram uma parceria entre os governos estadual e federal para o combate ao crime organizado no Rio de Janeiro, após a megaoperação que resultou na morte de ao menos 119 pessoas.
Entre as medidas, foi anunciada a criação de um escritório emergencial coordenado tanto pelo governo estadual quanto pelo federal, com objetivo de intensificar o enfrentamento ao crime organizado.
Lewandowski garantiu que especialistas do governo federal serão enviados para reforçar as investigações e ações na segurança pública.
“Estamos disponibilizando peritos criminais, médicos legistas, odontólogos e acesso a bancos de dados de DNA e balística para ajudar o estado. Essa colaboração visa enfrentar um problema grave que se alastra pelo país todo. Temos a expectativa de que os esforços coordenados trarão bons resultados em breve”, afirmou o ministro.
O governo federal também reforçará a atuação da Polícia Federal e da Força Nacional no Rio de Janeiro, em resposta ao aumento da violência.
“Durante a crise, aumentamos em pelo menos 50 integrantes o efetivo da Polícia Federal na região da capital, e novos reforços serão enviados. A Força Nacional também terá seu contingente ampliado conforme solicitado pelo governador”, explicou Lewandowski.
A operação gerou desconforto interno no governo federal, após o diretor-geral da Polícia Federal informar que a corporação foi avisada da ação policial no Rio, mas optou por não participar. Segundo ele, a decisão decorreu de uma avaliação operacional.
O ministro Lewandowski minimizou a repercussão, ressaltando que a comunicação sobre uma operação dessa magnitude não seria feita entre escalões inferiores. Ele também revelou que o presidente Lula ficou “estarrecido” com o número de mortos.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que o pedido formal de ajuda do Rio de Janeiro não foi feito.
Atualmente, há policiamento reforçado nas entradas das áreas afetadas e viaturas no Hospital Estadual Getúlio Vargas, onde três agentes continuam internados.
Créditos: cbn.globo