Filhos de Bolsonaro criticam Michelle e expõem divisões na família após prisão
Os filhos de Jair Bolsonaro, Flávio, Eduardo e Carlos, criticaram publicamente a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, acusando-a de desrespeitar ordens do ex-presidente, o que evidenciou divisões internas na família.
O conflito surgiu depois que Michelle criticou uma aliança política no Ceará envolvendo o deputado André Fernandes (PL-CE) e o ex-presidenciável Ciro Gomes (PSDB). Em resposta, o PL convocou uma reunião emergencial para discutir a situação, destacando que Michelle não possui autoridade para reorganizar palanques regionais.
Com a prisão do ex-presidente, a disputa pelo protagonismo político na família tornou-se pública, com Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro se posicionando contra as ações de Michelle ao questionar a aliança no Ceará. De acordo com eles, ao criticar o acordo, Michelle teria ignorado uma ordem direta do ex-presidente.
Na terça-feira, o PL organizou uma reunião em Brasília para enviar uma mensagem clara a Michelle, ressaltando que seu papel é apenas um cargo honorífico à frente do “PL Mulher”, sem poder para interferir na organização das candidaturas regionais.
Desde a semana anterior, tensões já se manifestavam depois de comentários pessoais de Michelle diante de membros do partido, evidenciando divergências na família, não só na escolha de aliados estaduais, mas também em relação a uma possível candidatura presidencial conjunta em 2026.
Michelle esteve no Ceará para o lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão ao governo do estado. No evento, ela criticou a aproximação do PL com Ciro Gomes, afirmando ser inadequado fazer aliança com alguém que se posiciona contra Jair Bolsonaro e que insulta a família dele.
Flávio foi o primeiro a manifestar publicamente sua insatisfação, qualificando a postura da madrasta como autoritária e afirmando que ela atropelou o ex-presidente, que havia autorizado a movimentação de André Fernandes no Ceará.
Carlos e Eduardo também se manifestaram nas redes sociais, reforçando que as decisões foram tomadas com a aprovação do pai e que a liderança de Jair Bolsonaro deve ser respeitada.
O conflito interno começou antes de se tornar público, após uma reunião do partido em que Michelle fez piadas consideradas pelo trio como prejudiciais à imagem do ex-presidente.
Durante a reunião, Michelle mencionou o costume do marido de comer milho cozido e fez uma brincadeira sobre sua resistência na prisão, forma de expressão interpretada pelos filhos como inadequada.
Flávio assumiu a liderança do grupo no encontro, pedindo cautela para evitar que gravações vazassem com declarações que poderiam associar Bolsonaro à impotência. Ele afirmou que todas as decisões deveriam partir exclusivamente do ex-presidente.
A disputa também envolve candidaturas no estado de Santa Catarina, onde Carlos foi escolhido por Bolsonaro, enquanto Michelle apoia outra candidata, Caroline de Toni, sem consultar a ex-primeira-dama.
Apesar das divergências, aliados dizem que Michelle participou do evento no Ceará a pedido do ex-presidente, sem a intenção de desautorizar suas decisões.
No entanto, no Centrão existem avaliações de que a manifestação pública de Michelle foi um erro grave ao criticar uma aliança já consolidada no estado. Políticos afirmam que Bolsonaro tinha aprovado a movimentação, fundamentada em pesquisas internas que indicam vantagem de Ciro na disputa.
Essa confusão no Ceará é vista como reflexo de um problema maior: com Bolsonaro preso, as divergências internas da base bolsonarista tornaram-se evidentes e não são apenas temporárias. O bolsonarismo também enfrenta dificuldades para aceitar o protagonismo crescente de governadores de direita, como Tarcísio de Freitas (São Paulo), que é visto como possível candidato à presidência apoiado por partidos de centro.
Enquanto isso, governadores como Tarcísio e Ronaldo Caiado (Goiás) buscam maior visibilidade política nas discussões sobre segurança pública no Congresso, aproveitando o momento para se posicionar para as eleições de 2026. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, também tem buscado protagonismo em audiências públicas recentes.
Créditos: O Globo