Governo Lula exonerou indicados após derrota no Congresso
Após sofrer nova derrota política em votação importante no Congresso, os articuladores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreram à retaliação: exoneraram cerca de 380 indicados de partidos de centro em cargos comissionados em ministérios e autarquias.
Entre os demitidos, há uma centena de filiados ao União Brasil e MDB, e dezenas indicados por PSD, PP e Republicanos. Embora oficialmente integrantes da base governista, esses partidos frequentemente votam contra pautas do Palácio do Planalto, demonstrando contradição evidente, especialmente na recente votação da Medida Provisória 1.303, a MP dos impostos. A ministra Gleisi Hoffmann afirmou que o movimento visa “reorganizar a base”, valorizando quem é leal ao governo e dispensando quem não é.
O episódio escancara uma tradicional prática política em Brasília, o “toma lá, dá cá”, e amplia a lista de desafios que o governo enfrenta na relação com o Congresso e sua base. As sucessivas derrotas evidenciam verdades incómodas para Lula e seu entorno, como a existência de uma base de apoio que já se mostra fictícia, um governo sem instrumentos adequados para a navegação política, e um presidente incapaz de manejar sua coalizão eficientemente. A maioria legislativa, com forte controle sobre o Orçamento da União, tem ignorado com crescente audácia as diretrizes do Executivo.
Essa retaliação reflete o próprio fracasso governamental. Sem saber como lidar com a nova realidade, o governo explica sua inépcia pela infidelidade da base e pelos interesses do Centrão. Partidos como União Brasil e PP, que tentam equilibrar o desejo de manter poder e a perspectiva eleitoral de 2024, promoveram um tipo de “governismo de oposição”. Oficialmente na base, usufruem de cargos e verbas, mas criticam publicamente o governo e apoiam candidaturas oposicionistas.
Porém, o problema maior é a má gestão da coalizão. Apesar do maior controle orçamentário pelo Legislativo ter aumentado o custo político, não o inviabilizou. O prejuízo maior vem das escolhas do governo. O PT optou por uma coalizão ampla com 16 partidos e alta heterogeneidade ideológica, mas não dividiu o poder. O partido controla 15 dos 38 ministérios, enquanto parceiros importantes como PSD, MDB e União Brasil lideram apenas três cada.
Além disso, a promessa de uma “frente ampla” não se concretizou, resultando em um mandato mais petista que nunca e numa postura fiscal que estimulou críticas do Congresso, muitas vezes defensor do controle do gasto público.
Uma reportagem recente do Estadão mostrou que este terceiro mandato de Lula tem o pior desempenho no Congresso desde 1988, com apenas 62 das 239 propostas transformadas em lei, uma taxa de sucesso de 25%, inferior até ao governo Dilma Rousseff. Lula, que antes era visto como hábil negociador, assiste passivamente à situação, restando-lhe apenas a retaliação, uma medida tardia e de pouco impacto para os desafios do governo.
Créditos: Estadão