Internacional
18:07

Guerra no Sudão atinge ponto crítico com tomada de Al-Fashir pelas RSF

A guerra no Sudão chegou a um estágio crítico com a tomada da cidade de Al-Fashir pelas Forças de Apoio Rápido (RSF). Al-Fashir, que já foi uma capital regional com mais de um milhão de habitantes, enfrentou um cerco rigoroso durante 18 meses, marcado por massacres e atrocidades, isolando completamente a cidade de qualquer ajuda humanitária.

Os moradores sobreviveram em condições extremas, consumindo ração animal, ervas daninhas e cascas de amendoim devido à fome generalizada dentro da cidade e nos campos próximos de deslocados. Os pedidos urgentes da ONU para intervenção internacional foram ignorados.

Recentemente, as RSF romperam as barreiras que isolavam Al-Fashir, forçando a fuga dos civis restantes e iniciando uma onda de assassinatos contra a população não árabe local. Tais ações lembram os genocídios cometidos há duas décadas pela milícia Janjaweed, predecessora das RSF, com relatos de execuções sumárias, estupros e outros abusos.

O governo dos EUA, sob o fim da administração Biden, já havia identificado as RSF como culpadas de genocídio. O líder das RSF, general Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemeti, afirmou que investigaria as acusações, mas sua reputação sugere pouca credibilidade.

Na última quinta-feira, Tom Fletcher, principal responsável humanitário da ONU, descreveu a situação em Al-Fashir como um “inferno sombrio”, destacando casos de estupros, mutilações e mortes ocorrendo com impunidade. Mesmo com o bloqueio das telecomunicações, relatos de horror chegam até a comunidade internacional.

Enquanto isso, a resposta do governo de Donald Trump tem sido limitada. Ele se apresenta como um grande pacificador, mas não tem priorizado a resolução do conflito no Sudão. O foco da Casa Branca tem sido o enfraquecimento da agência Usaid e a aceleração de deportações para o Sudão do Sul, que enfrenta sua própria guerra civil.

O conflito envolve as Forças Armadas sudanesas, lideradas pelo general Abdel-Fattah al-Burhan, apoiadas por países como Egito e Irã, contra as RSF, que contam com apoio militar dos Emirados Árabes Unidos, incluindo o envio de armas sofisticadas como drones chineses. Esses recursos garantiram à RSF manter controle sobre áreas estratégicas, como as minas de ouro do Sudão.

Analistas indicam que, apesar das conexões de Trump com os Emirados, ele poderia exercer mais pressão sobre o país para encerrar a guerra, mas isso ainda não ocorreu. Legisladores nos EUA também começam a se posicionar, pedindo que as RSF sejam oficialmente consideradas uma organização terrorista estrangeira.

Especialistas afirmam que não há solução simples para o conflito, já que diversas potências estrangeiras apoiam os lados em disputa. O fim da guerra exigiria engajamento contínuo, pressão sobre patrocinadores externos e um compromisso duradouro com uma solução política inclusiva.

Este conflito já resultou na morte de mais de 150 mil pessoas e deslocou milhões. Tom Fletcher, da ONU, resumiu a situação como uma falha global na proteção dos direitos humanos, onde atrocidades continuam sendo cometidas com impunidade e o mundo falhou com uma geração inteira.

Créditos: Folha de S.Paulo

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